Biografia Dr.Paulo Heber – terceira parte

Dr. Paulo Heber e um plano diretor para Irecê

Segundo o Dr. Paulo Heber, é necessário que se faça um cadastro de todos os profissionais, das mais diversas áreas, como médicos, advogados, arquitetos, engenheiros, agrônomos, carpinteiros, pedreiros, mestres de obra e artistas, etc., tendo assim uma fotografia de Irecê. Por meio de reuniões setorizadas, e de perguntas do tipo “O que Irecê está necessitando?”, muitos ensinamentos preciosos seriam colhidos:

 “É preciso que se pense um pouco mais sobre Irecê, em termos de planejamento. Irecê está precisando de um plano de governo. De repente o prefeito até quer isso, mas não chega às suas mãos”.

O segundo passo seria reunir os técnicos. O que é que temos que fazer? Quanto custa isso aqui? Dá para fazer em quanto tempo?

 “De nada adianta importar um plano de uma cidade que não tem nada a ver conosco. Adiantaria, por exemplo, importar um plano de Cascavel, no Paraná? Claro que não! O plano tem que sair deste povo”.

“A sociedade tem que estar organizada. Falta isso. Aqui em Irecê cada um cuida de si. Eu não sinto aquele calor humano nesta cidade”.




“Temos muitos técnicos aqui, mas dificilmente eles se reúnem para discutir Irecê. Irecê precisa de seminários promovidos pelo próprio povo, vamos pensar Irecê”.

Desperdício da força trabalhadora no país

Uma grande parte da força produtiva do país, segundo Paulo Heber, está sendo desperdiçada. Pessoas que tem uma constituição física mais avantajada, dotados de boa saúde, estão indo trabalhar como seguranças ou vigilantes, quando poderia haver uma seleção mais inteligente de pessoas para trabalhar nestas áreas.

“O guarda, vigilante ou segurança, em termo braçal, não usa o potencial que tem. Fica como se fosse uma imagem decorativa, no seu período de maior vitalidade, quando poderia estar rendendo muito mais para o país. Além de ficar inutilizado, por não aprender outras coisas a não ser isso, a força produtiva dele é destruída”.

Parte dessa força, segundo Paulo Heber, poderia ser usada em outra atividade rotativa, podendo a pessoa trabalhar uma semana como segurança e outra semana em outra função. Dessa forma não ficaria inutilizado.

“Um guarda, na situação atual, é só um guarda, não sabe fazer nada. Se for demitido do serviço, sofrerá porque não sabe fazer outras coisas”.

No mundo globalizado, com o avanço tecnológico, já não há necessidade de força física, para uma pessoa exercer a atividade de guarda ou vigilante. Aposentados angustiados pela inatividade ou que estão necessitando de renda extra para se sustentarem, poderiam ser usados para exercer a função de guardas ou vigilantes.

Codevasf: contribuição negativa e positiva

A chegada da Codevasf a Irecê foi importante por ser uma empresa que se preocupa com o desenvolvimento da região, tem ótimo quadro técnico, é um órgão empregador e além de tudo contribui com a sociedade organizada. Mas o engenheiro Paulo Heber faz algumas observações:

Se nos posicionarmos próximos a Cibrazem, não veremos a cidade de Irecê, que foi construída na parte mais baixa, começando com a chegada dos primeiros habitantes, que se posicionaram neste trecho, por ser mais fácil encontrar água para sobrevivência.

Acontece que na parte mais baixa está um lençol de rochas, percebido quando se vai fazer um esgotamento sanitário, uma drenagem, uma fossa em Irecê. Logo se chega a uma rocha sedimentar, exigindo gastos com detonações. Por isso Irecê não evoluiu em esgotamento sanitário.

A cidade bem que poderia ter se expandido para outras áreas, mas aí entra na história a Codevasf:

“Acredito até que a Codevasf veio para ajudar Irecê e ajudou, é verdade, mas contribuiu negativamente com o desenvolvimento de Irecê, pois ficou com a parte mais privilegiada da cidade, ocupando uma grande extensão de terras, deixando as pessoas com a opção de construírem apenas na parte mais baixa da Irecê”.

Projeto arrojado para mudar o centro de Irecê

Na opinião do engenheiro, uma vez que a Codevasf ficou com a parte mais importante da cidade, havia a necessidade imediata de se planejar um novo centro comercial para Irecê, quebrando um pouco a força da especulação imobiliária.

Se fosse feita uma política de incentivo a novos loteamentos, com oferta de lotes maiores, demarcados, não precisaríamos ficar presos ao centro de Irecê, o que encarece muito os lotes. Irecê, na opinião de Paulo Heber, precisa de pessoas que enxerguem mais longe.

A ausência de planejamento em Irecê é um dos motivos para o aumento do número de favelas nas periferias.

“Se o lote é muito caro e a pessoa não pode comprar, ela não vai ficar na rua, ao relento, vai mesmo é fazer sua morada com papelão”.

Como salvar vidas no trânsito

Após presenciar um acidente, Paulo Heber teve uma ideia que pode resolver um grave problema de trânsito, que vem ceifando a vida de milhares de trabalhadores.

Sua ideia é a seguinte: na faixa de domínio, uma área de terras que fica ao lado do acostamento, todos os obstáculos com diâmetro superior a quarenta centímetros, seriam removidos, o mesmo acontecendo com árvores de um determinado diâmetro, pois a maioria dos acidentes não ocorre na pista e sim nesta faixa. Uma simples olhada permite a qualquer pessoa comprovar isso.

Claro que se poderia fazer uma discussão mais consistente, juntamente com os técnicos que estabeleceriam qual o diâmetro permitido para pedras e árvores na faixa de domínio. As montadoras também participariam, porque elas sabem o impacto suportado pelo metal da chaparia dos veículos que fabricam.

Seria fácil a remoção dos obstáculos durante a construção das novas estradas, pois para isso trabalha-se com equipamentos pesados como trator de esteira, retroescavadeira e enchedeira. Na hora de delimitar a faixa, todos estes obstáculos seriam removidos.

Também seria fácil removê-los das faixas de domínio de estradas mais velhas, o que poderia ser feito em parceria com governo federal, estadual e municipal.

“O risco é de todos que se locomovem pelas estradas. Desde o governador, ao rico empresário, até o simples trabalhador, todos correm risco de vida por causa dos obstáculos na faixa de domínio”.

“Você está perdendo a força de trabalho nas estradas. Em quase todo instante uma pessoa está morrendo vítima de acidente nas estradas e quem está morrendo não é a criança, nem o inativo, nem o velho. Quem está morrendo é o homem que está trabalhando. É aquele que o país gastou vinte anos dando formação”.

Destinando uma área de Irecê para indústria

“Em Irecê, por exemplo, ninguém nunca ouviu falar em uma área destinada a investimento. Uma área destinada à indústria, a um parque cultural, não existe”.

O pequeno investidor sairia do fundo do quintal, se houvesse disponibilização de lotes para pequenos empreendedores interessados em montar uma indústria. Nesse caso a prefeitura entraria com a infraestrutura: energia, água, telefone e urbanização, etc.

O que acontece atualmente é que por falta de espaço para a área industrial de Irecê, grande parte de empreendimentos continuam ocultos. A fábrica de biscoito permanece no fundo do quintal, a fábrica de pizza continua na cozinha. O parque industrial já existe de certa forma, mas continua isolado.

“Às vezes, a pessoa sacrifica o quarto de um filho para fabricar pizzas, sacrifica o quarto de outro para fabricar roupas. Se estas pessoas tivessem a oportunidade de fazer sua fábrica, em uma área planejada, com uma assessoria técnica, sem dúvida se estabeleceriam como empresa, gerariam mais empregos, mais receitas, mais impostos”.

Fundou o Creasa e resolveu um problema social

Quando era gerente da Embasa, deparou com uma situação constrangedora. O gerente do Baneb ameaçou tomar todos os cheques dos funcionários da Embasa, devido à quantidade de cheques sem fundos.

Reunindo-se com todos os funcionários, a fim de saber o motivo, eles lhe disseram que quando chegava perto do dia 15 ou 20, surgiam as dificuldades e eles tinham que dar pré-datados. Às vezes o salário, que era para ser recebido no dia 30, atrasava e os cheques eram devolvidos.

Como gerente, o Dr. Paulo Heber não poderia aumentar o salário de ninguém, nem impedir que atrasasse, mas teve uma ideia que poderia resolver aquele problema social. Assim surgiu a ideia do Creasa.

O pequeno clube com área recreativa foi fundado em 22 de maio de 1985, com uma pequena contribuição mensal de todos os funcionários.

O Creasa abriu convênios com supermercados, açougues e farmácias e deu um carnê a cada associado. Em vez de cheque, o associado pagava com um carnê. Assim quem estava comprando não era o funcionário, era o Creasa.

Paulo Heber, primeiro presidente do Creasa, resolveu dessa forma um grave problema social, que afetava inúmeros pais de família.

Valorização da família

“O que mais gosto neste mundo é de viver intensamente, junto com as pessoas que gostam de mim, junto com minha família. A família é para mim um tesouro”.

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