O antigo uso medicinal do tabaco na história de Irecê

A fabricação do torrado ou rapé

O antigo uso medicinal do tabaco ainda continua lembrado por muitos moradores mais velhos de Irecê. Era uma prática quase generalizada até por volta dos anos 1960. Muitos usavam diariamente seja para supostamente curar certas doenças, seja como preventivo.

Não usavam um torrado qualquer, mas o melhor de todos, fabricado artesanalmente.

E para conseguirem isso tinham que seguir certos procedimentos.

Primeiro escolhiam um fumo bom. Depois destrançavam, desfiavam e depositavam em cima de uma folha-de-flandres.

Em seguida pegavam a folha-de-flandres com o fumo e colocavam na chapa do fogão a lenha ou sobre as brasas de uma fogueira qualquer.

Mexiam bastante o fumo até ele ficar bem torrado.

Por último botavam o fumo num pilão junto com ervas medicinais como mastruz, pau-de-rato, umburana de cheiro, pixurim e mostarda. Então pilavam bastante até virar o pó, conhecido como rapé ou torrado.

Se não tivessem pilão enrolavam num pedaço de pano bem limpo e resistente e batiam até obterem um excelente produto.

Carregavam o torrado na tabaqueira ou binga, um objeto muito parecido externamente com o bogue, usado para fazer fogo antigamente em Irecê.

Faziam a tampa com um pedaço de cabaça ou de umburana.

Uma correia prendia a tampa à tabaqueira ou binga.

Modo de usar

Abriam a tabaqueira e tiravam a quantidade de rapé que queriam.

Animação em um cinetoscópio de Fred Ott inalando rapé e espirrando. Criada no laboratório de Thomas Edison, em 1894.(Wikipédia)

A Wikipédia descreve um procedimento elegante que se usava para cheirar o rapé. Primeiro fechavam uma das mãos na vertical. Depois esticava-se o dedão firmemente para cima.

Ao fazer isso aparece, na junção da mão com o braço, um oco, produzido pelo tendão esticado do dedo. Nesse oco se coloca o pó.

Aproximavam-se então o pó de uma das narinas, tendo a outra tampada com o dedo indicador da outra mão. Aspiravam com força fazendo com que o pó entrasse pela narina, provocando espirros.

Espirros

Espirros são consequências da inalação do rapé.

Os mais experientes no uso do produto costumam rir de quem está espirrando, dizendo que isso acontece porque o usuário é um iniciante.

O certo é que a tendência para espirrar está relacionada ao tipo de rapé e a pessoa em particular.

Os rapés mais secos causam mais espirros.

Quando os moradores mais antigos de Irecê cheiravam o rapé mais seco, espirravam bastante.

E o alívio causado pelos espirros os dispensavam do uso de comprimidos existentes hoje, mais ausentes na época deles.

O torrado os deixava bem-dispostos, a cabeça aliviada, prontos para cuidarem dos seus afazeres.

Era o preventivo contra gripes e resfriados, após os banhos.

Também o usavam para curar dores de cabeça, sinusites, nariz entupido e muitos outros males sofridos pelos ireceenses das décadas passadas.

“O rapé era para o banho, era para quem tomasse chuva atrapalhada na roça, era para quem estava com a cabeça doendo, era para qualquer tipo de ameaça a saúde” ´- disse-me Chicão, um morador antigo de Irecê.

Até hoje, é um preventivo de gripe na cultura popular.

Dependentes do rapé

Segundo especialistas, os efeitos iniciais do rapé são mais fortes do que uso de algumas drogas.

Os efeitos do rapé são por pouco tempo: normalmente cinco minutos.

Já a cocaína depois de injetada ou usada via intranasal provoca efeitos com duração em torno de 20 a 45 minutos.

O torrado provoca os seguintes efeitos:

  • Euforia
  • Agitação
  • Sensação de prazer
  • Irritabilidade
  • Alterações da percepção e do pensamento
  • Taquicardia e tremores
  • Perda de apetite
  • Extrema autoconfiança
  • Insônia
  • Estado de alerta
  • Aumento de energia/disposição física

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Fonte: blog Jackson Mensagem Livros do escritor Jackson Rubem, impressos e online.
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