Hoje estou com umas imaginações que muitos podem considerar idiotas. Tenham razão ou não, o certo é que sinto um grande prazer, só em me imaginar dentro de uma casinha, no núcleo deste cometa verde que você está vendo.
Hoje a noite ele estará mais visível ainda e milhões de pessoas, a depender das condições meteorológicas e localidade, poderão admirá-lo. Apenas poucas pessoas, no entanto, gostariam estar lá, juntamente comigo.
Tudo no cometa verde é bonito, exceto o nome que é bem esquisito por causa dos números, letras maiúsculas e barra: C/2014 Q2 Lovejoy. Um pecado, senhores cientistas, batizar o mais fascinante corpo celeste com um nome tão extravagante e difícil de memorizar! Mas podemos chamá-lo simplesmente de Cometa Verde Lovejoy, Cometa Lovejoy ou Cometa Novo Ano.
A palavra cometa é originada do Latim cometes que vem do grego komē, que significa “cabeleira da cabeça”. Aristóteles usou pela primeira vez a derivação komētēs para descrever cometas como “estrelas com cabeleira”. O símbolo astronômico para cometas (☄) consiste de um disco com uma cauda similar a uma cabeleira.
O cometa que escolhi é um dos mais brilhantes e raros fenômenos espaciais visível a olho nu. Segundo os cientistas, ele passou por nosso sistema solar em uma época que nem eu, nem você, nenhum de nós existia: 11.500 anos atrás!
Não importa o passado, importa o presente. E ele estará bem pertinho de nós. Distante somente 70,2 milhões de quilômetros! Isso é perto, considerando as dimensões celestiais. Depois desaparecerá e só retornará novamente daqui a 8.000 anos.
É uma pena que nossa vida neste mundo seja tão breve, bem menos que a de uma tartaruga; bem menos do que a da maior parte das árvores. Pobres humanos, isso sim é o que somos, mesmo que sejamos ricos. Pois bem, não terei outra chance de vê-lo, mas poderei estar nele. Fantasia? Não, realidade. Veja como.
Penso logo existo, disse o filósofo René Descartes. O pensamento foi o maior presente que Deus nos deu. Através dele, podemos estar em qualquer lugar, mas nos acostumamos a sentir como se estivéssemos presos dentro de um crânio duro na massa encefálica, do nascimento até a morte.
Posso lhe garantir que não é assim. Sinta que você está na barriga da sua perna e lá estará. Sinta que está nos seus pés e lá estará. Mas eu vou sentir que estou no cometa verde Lovejoy, em uma casinha feita com toros de madeira e lá estarei.
Viajarei literalmente a mais de 100 mil quilômetros por hora, juntamente com o cometa. Estarei despreocupado com assaltos, terrorismo, contas a pagar no final do mês e tantas outras mazelas deste mundo.
Mas não ficarei o tempo todo, debruçado para fora da janela apreciando os mundos que Deus criou. De vez em quando saltarei para alguns planetas, muitos com dois sois e depois retornarei para minha “estrela com cabeleira”. Se eu estiver com muita sorte, durante estes saltos para outros mundos, encontrarei alguns alienígenas, assim como eu.
Uma longa viagem de férias que durará 8.000 anos, quando então o Cometa Verde Lovejoy, onde tem minha casinha, retornará ao planeta Terra.
Sei que muitos ficarão tristes em só me ver novamente daqui a 8.000 anos, mas tenho uma solução: me adicionem no Facebook para acompanhar minha odisseia pelo espaço. Ah, aproveitem e me acompanhem também na rede social Google + e no Twitter, onde estarei postando novidades. Mandarei alguns selfies.
Até alguns segundos luz.