Em meados do ano de 2007, durante pesquisa para um de meus livros, estive no Mosteiro de São Bento, em Salvador, onde existe uma biblioteca com mais de meio milhão de livros, entre os quais relíquias da época do descobrimento do Brasil.
Fui atendido por um padre holandês, cujo nome já não me lembro. Ele falava um péssimo português, porém inteligível. Pensei em falar em inglês com ele, mas, embora consiga ler facilmente neste idioma, na época ainda não tinha segurança suficiente para dialogar em inglês com um europeu.
O padre se identificou imediatamente com meu trabalho, parabenizou-me pela “louvável iniciativa” e me atendeu em tudo que precisei.
Ele se interessou bastante por Irecê e a Chapada Diamantina que tinha ouvido falar, tinha vontade de conhecer, mas faltava oportunidade.
Dei-lhe de presente meu livro publicado em inglês Brazilians Before Cabral – History and Rock Art e em português: Brasileiros Pré-Cabralianos – História e Arte Rupestre. Disse-lhe que o livro tinha dezenas de fotos de pinturas rupestres, existentes na Chapada Diamantina e fotografadas por mim durante a pesquisa.
Ele agradeceu-me mais de uma vez pelo presente. Disse que foi o primeiro que tinha recebido desde sua chegada à Bahia, há pouco mais de um mês.
Após longos momentos de silêncio, enquanto fazia a pesquisa e algumas anotações, o padre holandês perguntou-me se o hábito de leitura dos ireceenses era o mesmo dos baianos como um todo.
Não entendi bem aonde queria chegar e perguntei-lhe o motivo de tal pergunta.
E ele explicou em seguida:
“Vocês baianos estão longe de chegar ao nível dos Europeus em termos de leitura. Em meu país, por exemplo, ao entrar em um ônibus ou em qualquer veículo de transporte você observa que as pessoas aproveitam a oportunidade para colocar a leitura em dias. Pegando ônibus coletivo aqui em Salvador, raramente observei um baiano com um livro nas mãos”.
Em seguida acrescentou, enfaticamente:
- Vocês baianos desperdiçam um tempo precioso! E tempo perdido não se recupera jamais!
Embora eu tenha o hábito da leitura, inclui-me entre aqueles que ele estava criticando, pois também pego ônibus e viajo horas e horas e raramente tenho um livro em mãos para ler durante a viagem. Agindo assim, também estou desperdiçando “um tempo precioso” de melhorar meus conhecimentos, exercitar meu cérebro, aguçar minha inteligência e tantos outros benefícios resultantes da leitura.
Passei muitos meses sem ir ao Mosteiro. Da última vez que estive lá, não mais encontrei o padre holandês. Tinha retornado ao seu país.
Confesso que na época me senti ligeiramente magoado com sua observação acerca de nosso interesse pela leitura, um pouco discriminado porque ele demonstrou que os europeus são culturalmente superiores a nós baianos, mas hoje eu vejo que tinha razão, ainda que parcialmente.
APOSTOLO PEREIRA diz
JOSÉ O.S.B O PADRE HOLANDÊS( BERNARD BEN DE BOER) SE ESQUECEU DA DIFERENTE FORMAÇÃO HISTÓRICA DAS DIVERSAS REGIÕES DO BRASIL, TEMOS VÁRIOS BRASIS E POR INFELICIDADE SUA CRÍTICA FAZIA VALER NA NOSSA SALVADOR DE BAIXÍSSIMO PODER AQUISITIVO EM COMPARAÇÃO À HOLANDA ONDE A RENDA PER CAPITA É 5 VEZES À DE UM SOTEROPOLITANO E AINDA FORTEMENTE CONCENTRADA.
Abderman Carneiro Pimenta diz
Jackson Rubem!
Infelizmente, o Padre Holandês tem toda razão.
Nós brasileiros lemos muito pouco, e olha que temos bons escritores, excelentes trabalhos publicados. Acho que é problema de cultura mesmo.
Um abraço amigo!
Jackson Rubem diz
É verdade, meu confrade Abderman. Culpo isso a televisão brasileira e as grandes revistas nacionais, como a veja, Isto É, entre outras, que priorizam a bestialidade. Ou seja, quanto mais imbecil for sua produção, mais chances você tem de aparecer na grande mídia. Parte também da culpa é do governo que poderia exigir uma quantia de horas das emissoras de rádio e televisão voltadas para programação cultural e de incentivo a leitura, pois se trata de concessões públicas. Enfim, a prioridade é político corrupto, assassinos, futebol e músicas pornográficas. Isso ocupa 90% da programação do rádio e da Tv.