O Brasil fala que é um país democrático, mas obriga as pessoas a irem votar. Diz que a Constituição garante o direito a liberdade de expressão e muitos dizem que concordam com isso, claro, desde que não sejam contrariados.
Um exemplo claro disso é o que aconteceu com o Levy Fidelix , presidente do PRTB, o eterno candidato que nunca ganha. No debate da TV Record, com os candidatos a presidente, ele foi indagado sobre o que pensa do casamento gay. E respondeu, manifestanto seu ponto de vista. Só isso, para a maioria da opinião pública, mas para a militância gay não foi só isso.
Vejam o vídeo:
Eis a transcrição do que ele falou:
– “dois iguais não fazem filho”;.
– “aparelho excretor não reproduz”;
– “como é que pode um pai de família, um avô, ficar aqui, escorado (?), com medo de perder voto? Prefiro não ter esses votos, mas ser um pai, um avô, que tem vergonha na cara, que instrua seu filho, que instrua seu neto”;
– “eu vi agora o papa, o Santo Padre, expurgar, fez muito bem, do Vaticano um pedófilo”;
– “que façam um bom proveito se quiserem fazer de continuar como estão, mas eu, presidente da República, não vou estimular. Se está na lei, que fique como está, mas estimular, jamais!, a união homoafetiva”;
– “Luciana, o Brasil tem 200 milhões de habitantes. Se começarmos a estimular isso aí, daqui a pouco vai reduzir para 100 [milhões]. Vai para Paulista, anda lá e vê. É feio o negócio, né?”;
– “esses que têm esses problemas, que sejam atendidos no plano afetivo, psicológico, mas bem longe da gente, porque aqui não dá”.
Onde está o crime? pergunta Reinaldo Azevedo, em sua coluna na Veja, no post intitulado: Janot tem um ataque de populismo politicamente correto e pede investigação sobre a fala de Fidelix a respeito do casamento gay. Sabem o que é isso? Ódio à liberdade de expressão disfarçado de tolerância…
E acrescenta, referindo-se a Levy Fidelix e ao doutor Janot:
Ele deu essa resposta no contexto em que se discutia o casamento, ao qual ele se opõe. Extrapolar e afirmar que ele está propondo um enfrentamento físico é um caso evidente de superinterpretação. É evidente que se trata de um enfrentamento na esfera dos valores. Tenham paciência! Sugeriria ao procurador-geral que cedesse menos aos clamores de opinião para não gastar à-toa o nosso dinheiro. Sempre que alguém disser, agora, que pretende enfrentar A ou B, estará falando de confronto físico? Aliás, doutor Janot, consulte o dicionário: em nenhuma acepção, “enfrentar” é sinônimo de partir para a porrada.
Mesmo Levy Fidelix sendo, digamos, destituído de maiores atrativos intelectuais, é o fim da picada tentar isolar a frase do contexto porque, afinal, é preciso dar uma satisfação à militância gay. Ele também afirma no debate, ou não?, que, se a lei garante a união, que seja seguida.
Reitero o meu ponto de vista: na democracia, está assegurado o direito de dizer coisas idiotas. A militância gay e os patrulheiros politicamente corretos deveriam ser mais cuidadosos. São muitas as minorias no Brasil e no mundo. Imaginem se cada uma delas for criar agora a cartilha das coisas que não podem ser ditas.
Eu repudio a intolerância dos intolerantes.
E repúdio também a intolerância dos que pretendem ter o monopólio da tolerância.
A propósito, debati essa questão na VEJA.com com o psicanalista Contardo Calligaris.