Irecê – estrangeiros e descendentes
Irecê – mostramos no tópico anterior que por ordem de chegada os primeiros habitantes foram os índios . Depois deles, na ordem de chegada os estrangeiros e descendentes:
Há no sangue de cada brasileiro uma mistura de três raças ou povos fundamentais: (1) Indígenas ou ocupantes originais (2) Invasores europeus (3) negros africanos, trazidos para cá com a finalidade de prestarem serviço escravo.
Houve, inicialmente, uma miscigenação destas três raças. Depois veio o desbravamento do país por parte dos bandeirantes em busca de ouro e diamantes. Além do metal precioso, buscavam “selvagens indígenas “para trabalho escravo.
Os bandeirantes eram movidos pela ânsia de aventura, prestígio, riqueza, que a descoberta de minérios poderiam lhes proporcionar. Além disso, buscavam outras fontes de recursos naturais, impeliam. Centenas de bandeirantes entravam nas matas brasileiras seguindo estes desejos.
Era costume chamar de bandeirantes os desbravadores e chefes de expedições movidas contra os índios. Ganhavam este nome por andarem com uma bandeira à frente de suas colunas. Algumas bandeiras tinham por meta pegar metais preciosos, outras capturar indígenas para trabalho escravo.
Grande parte dos bandeirantes e daqueles que os acompanhavam formando as bandeiras iam se fixando nas localidades por onde passavam, desenvolvendo a agricultura e o comércio. Assim surgiram os povoados, as vilas e as cidades.
Bandeirantes e o rio São Francisco
Os bandeirantes avistaram a foz do São Francisco, pela primeira vez, em 4 de outubro de 1501, um ano, portanto, após o descobrimento do Brasil.1
À medida que iam nascendo os povoados, as vilas e as cidades no interior da Bahia, aumentava também a demanda por carne. Demanda esta que se encontrava no ápice, em consequência do vertiginoso aumento populacional nas capitais brasileiras, sobretudo na capital baiana. As pessoas queriam carne para se alimentarem, mas a carne estava difícil. É verdade que havia muita caça, mas nem todas as pessoas estavam dispostas a entrar no mato para matar animais.
No ano de 1550, o primeiro governador-geral, Tomé de Souza, mandou trazer gado bovino de Cabo-Verde. Logo surgiram os primeiros currais, construídos no Recôncavo e em algumas ilhas da Baía de Todos os Santos.
Acontece que as pessoas que já moravam naqueles locais, não tinham a menor vocação para a pecuária. Além disso, o cultivo da cana-de-açúcar e o de fumo, em menor proporção era muito lucrativo, preferindo eles criarem poucas cabeças de gado bovino. Criavam gado apenas para consumo próprio e de trabalhadores.
A procura de carne de gado, no entanto, por parte dos navios que vinham de Portugal aumentou vertiginosamente. Além disso, não haviam bois suficientes para a tração nas culturas de cana e de fumo. E ainda: um decreto real, feito no período colonial, proibia terminantemente a criação de gado, numa área de cinquenta léguas da costa, na capitania da Bahia. Esta área, segundo o decreto, ficava exclusivamente destinada à plantação de cana-de-açúcar.
O aumento da demanda por carne bovina, a falta de bois para tração nas culturas de cana-de-açúcar e fumo, e o decreto real proibindo a criação de gado numa área de cinquenta léguas da costa, na capitania da Bahia, estimulava a exploração de gado em outras áreas do território baiano. O Vale do São Francisco era o local ideal para este propósito.
Irecê e Antônio Guedes de Brito
É aí que entra na história o primeiro proprietário das terras, em parte das quais foi construída a atual Irecê e diversas outras cidades da microrregião. Refiro-me a Antônio Guedes de Brito, primeiro dono destes terrenos. Ele residia a apenas doze léguas de Irecê, em Morro do Chapéu, no ano de 1663!
Quando ele ganhou estas terras, na forma de sesmaria remuneratória, partiu de Morro do Chapéu com cerca duzentos homens, montados a cavalo. Foi a outras localidades e penetrou nas caatingas que agora eram suas, dizimando grande parte dos índios que aqui habitavam e transformando os demais em escravos.
Antônio Guedes de Brito além de possuir estas terras, possuía também uma mente ágil capaz de escolher alternativas viáveis para explorar seu latifúndio. Concluiu que a melhor maneira de tirar proveito de seus terrenos era criar milhares de cabeças de gado, nos locais mais adequados para a implantação de fazendas.
Assim, entrando pelas caatingas, montado a cavalo e em companhia de centenas de homens, Antônio foi escolhendo os melhores locais para criar gado, dando preferência àqueles onde havia abundância de água. A primeira de suas fazendas nesta região foi construída no lugar denominado por ele de Lagoa das Caraíbas ou Brejo das Caraíbas, atual Irecê.
Donald Pierson, estudioso do Vale do São Francisco, escreveu:
“No início do período colonial, criadores que arrendavam terras dos grandes latifundiários, como os da Casa da Torre e Casa da Ponte… espalharam-se em forma de leque a partir do São Francisco, localizando-se na maior parte dos casos ao longo de um curso de água situado habitualmente a não menos de 2 ou 3 léguas de distância e, mais amiúde, de 5 a 13 léguas.“2
Criação de gado
Em outras palavras: a criação de gado nas terras da bacia do São Francisco, deve-se a diversos fatores:
Primeiro: A maior parte dos terrenos ganhos por Antônio Guedes de Brito não serviam para cultivar a cana-de-açúcar, já desenvolvida na costa pelos europeus e seus descendentes, mas produziam uma pastagem natural, excelente para os animais. Isso sem contar no fato de grande parte dos terrenos serem salobros, produzindo uma certa quantidade de sal, substância muito necessária aos animais.
Segundo- A criação de gado ficava mais barata que a produção de outros produtos. Terceiro – O gado dispensava a existência de transportes, para serem levados para outras regiões e lá serem abatidos, pois se locomovem com seus próprios pés. Quarto – Os garimpos não eram fontes inesgotáveis, logo se fazia necessária a exploração de outras riquezas.
Antônio Guedes de Brito tinha conhecimento da proibição de se explorar a criação de gado próximo à costa baiana, reservada para o plantio da cana-de-açúcar. Sabia também que existia uma demanda de carne por parte da população sempre crescente, tanto nesta região, quanto em outras. Somando-se isso a outros fatores, decidiu explorar sua enorme sesmaria remuneratória, criando gado bovino.
Irecê era inicialmente a fazenda Lagoa das Caraíbas
O primeiro passo para a concretização deste objetivo foi dividir seu latifúndio em dezenas de fazendas, cujas sedes ficavam em lugares melhores de água. A atual Irecê era uma dessas fazendas, conhecida, na época, como Lagoa das Caraybas e Brejo das Caraybas, porque além da famosa quixabeira da avenida Tertuliano Cambuí, havia no mesmo terreno dezenas de belíssimos pés de Caraybas, considerada por todos como a planta rainha do sertão.
Depois dos currais prontos, mandou buscar gado bovino em Salvador e em outras localidades. Logo os rebanhos multiplicaram-se tão rapidamente, que alguns currais possuíam trezentas, quatrocentas, quinhentas, oitocentas ou mil cabeças de gado, chegando algumas ter seis mil, dez mil, quinze mil ou mais de vinte mil cabeças de gado.6
Em Lagoa das Caraybas ou Brejo das Caraybas haviam milhares de cabeças de gado pastando livremente, desde o início do século passado. Após a engorda, parte dos animais era transportada para o abate em cidades distantes. Outra parte era abatida aqui mesmo, para consumo.
Homens montados a cavalo, cavalgavam durante à noite, levando boiadas de até três mil animais. Enquanto conduziam os bois, cantavam suas músicas monótonas, a fim de impedir que os animais debandassem ou se desgarrassem. Iam para bem distante daqui, em viagens que duravam até dois meses. Guiavam boiadas criadas em Caraybas e em diversas áreas onde se localizam atualmente grande parte das cidades da microrregião de Irecê.
O gado destes currais supriam as necessidades das pessoas que moravam na região, no início do século passado, e de pessoas de outras localidades. A pele lhes proporcionavam o feitio de roupas para o mato, camas rústicas, macas para guardar roupas, bruacas para guardar alimentos, “borrachas” que serviam para carregar água, alforjes onde colocavam provisões, mochilas, cabrestos, cordas, bainhas de faca, tornando o couro uma das principais matérias -primas de todos os artefatos daquela época.
Fonte: blog Jackson Rubem Livros do escritor Jackson Rubem, impressos e online.
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Referências:
- Donald Pierson, O HOMEM NO VADE DO SÃO FRANCISCO, 1972, Tomo I, p. 224
- Donald Pierson, O HOMEM NO VADE DO SÃO FRANCISCO, 1972, Tomo II, p. 6
Os primeiros proprietários de Irecê
Primeiros habitantes por ordem de chegada: arrendatários
Primeiros habitantes por ordem de chegada: indígenas brasileiros
História resumida de Morro do Chapéu
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