Irecê – indígenas brasileiros
Irecê – Indígenas brasileiros: os povos indígenas que habitavam as terras da antiga Irecê – Bahia são de origem asiática, assim como os demais. Os estudiosos do assunto dizem que eles vieram da Ásia. Atravessaram a pé o Estreito de Bering, na glaciação de 62 mil anos atrás.
A caminhada durou centenas de anos até chegarem à América. Quando chegaram ao continente americano, espalharam-se rapidamente pelas extensas áreas de terra, preenchendo as selvas.
Saladino de Gusmão propôs o termo amerígena, no ano de 1936, para designar os selvagens da América. Selvagem, no caso, referia ele aos índios.
A fertilidade dos indígenas brasileiros era no mínimo igual ou até melhor do que a nossa. Eles não fazem planejamento familiar.
Além disso, já se encontravam nos solos brasileiros há no mínimo dois mil anos. Nós estamos aqui há apenas quinhentos anos. Disso podemos inferir o seguinte: quando os portugueses chegaram ao Brasil, há pouco mais de quinhentos anos, havia, no mínimo, o dobro dos atuais cento e cinquenta e cinco milhões de brasileiros, enumerados pelo censo de 1995.
Existindo aos milhões, os índios foram paulatinamente reduzidos a pó ou à escravidão.
Restam poucos deles atualmente, se compararmos com a população de trezentos anos atrás.
Irecê e Morro do Chapéu
Os indígenas brasileiros da antiga Caraíbas, atual Irecê-Bahia, também tiveram o mesmo destino. Claro que a área da atual cidade era uma caatinga fechada.
Gabriel Soares de Souza, autor do livro “Tratado descritivo do Brasil”, publicado em 1587, enumerou, já naquele ano, centenas de grupos indígenas no Brasil.
No ano de 1652, já se falava em indígenas brasileiros que residiam em Morro do Chapéu e consequentemente em Irecê ou Caraíbas, na época, cujas terras pertenciam a Morro do Chapéu.
Caraíbas, primeiro nome de Irecê, por exemplo, refere a indígenas dos Caraíbas, uma grande família linguística, da qual fazem parte muitas tribos no Brasil. Além disso, Irecê é também um nome indígena que significa, segundo Teodoro Sampaio, “pela água, à tona d’água, à mercê da corrente“.
Os índios da região de Irecê foram descobertos, pela primeira vez, poucos anos após o descobrimento do Brasil, conforme consta nos Anais do Arquivo Público da Bahia:
“Em 1652, João Calhelha engravatava grotões e furnas de Jacobina, sempre na pista de Moribeca. Em 1658 e 59 conseguiram 50 léguas de novas sesmarias ao longo do grande rio. E os cariris, rechaçados do Morro do Chapéu para a margem direita do São Francisco, cediam lugar aos conquistadores.”1
Só no Vale do São Francisco, e Irecê pertence à bacia hidrográfica do São Francisco, existiam dezenas de grupos indígenas. Eis alguns:
Abaeté, Tamoio e Cataguá, Shacriaba, Acroá, Aricobé, Tobajara, Amoipira, Tupiná, Ocren e Sacragrinha, Tupinambá, Ponta e Massacara, Tamanquim, Caripó, Dzbucua-Cariri, Poria, Cariri,Tacaruba, Payayas, Tusha, Ouesque, Uma e Vouvé, Pancaruru, Huanoi e Chocó, Carapotó e Fulinô, Garanhum, Aramuru, Boimé, Caxago, Guaíba, Cururu, Goianá, Prakió Tacaruba, etc.
Faz parte de todo ser humano o recôndito desejo de migrar de um lugar para outro, buscando o eldorado. Do mesmo modo que viajamos de um lugar para outro em busca de um lugar melhor para fixarmos residência, eles também migravam em busca do lugar ideal para viver, isto é, o lugar que mais tinha caça, mel e terrenos férteis para cultivarem.
Belchior Dias Moreira
Pedro Calmon, um dos maiores historiadores do Brasil, menciona a presença de pessoas penetrando estas terras, em companhia de índios:
“Belchior Dias Moreira metera-se pelos gerais do Nordeste com os índios, parente de sua avó Catarina Alvares, e de sua companheira, a mãe de Robério. Não havia de ser muito diferente dos tupinambás e Caetés, cuja amizade cultivou: sumariamente vestido, a face acobreada, falando o “ABENEEGA”, comendo raízes que eles mastigavam, bebendo a água que se agasalha nas palmas do gravatá, caçando à flecha os roedores da caatinga, onde seu organismo de aço, como planta enfezada e persistente, recobrava energias …”2
A existência de índios em todo o território brasileiro é um fato insofismável. Há vestígios deles em todos os lugares. Na microrregião de Irecê é possível detectar, em diversas cidades, vestígios deixados pelos índios habitantes destas terras. Por exemplo, em América Dourada, Central, Ibipeba, Irecê e Barra do Mendes eles deixaram inscrições rupestres, desenhos de linhas, círculos, pontos, estrelas, animais e outras coisas.
Em Irecê havia outrora lajedos, cheios de tanques naturais, mais conhecidos por “tocas” ou caldeirões e até grutas de diversos formatos e profundidade. Nestes locais havia uma diversidade incrível de pinturas indígenas.
Infelizmente, no passado, não tivemos um prefeito preocupado em preservar nossas riquezas históricas, ante a ambição capitalista. Vieram os proprietários de máquinas de fazer concreto e arrasaram tudo, sem nenhuma preocupação por parte deles ou das autoridades, na preservação daquilo que seria para todos nós uma das maiores fontes históricas.
Sempre houve por parte dos “civilizados”, afora algumas exceções, uma preocupação em transmitir a todas as pessoas que os índios são selvagens. Quando avistavam uma pintura indígena, admiravam-na não por sua essência, e sim, porque foi feita por um selvagem, cuja criatividade não permitia fazer mais que uma simples pintura rupestre.
Tais raciocínios, produzidos por uma cultura que se diz superior, em detrimento de outra que consideram inferior, têm por fim perpetuar a ideia de que os índios são selvagens, e os brancos são civilizados.
Eles têm as mesmas capacidades que nós, embora estejam impossibilitados, ou pelo menos não sintam o desejo de atingir nosso grau de conhecimentos, sobretudo na arte de poluir e de matar.
Afinal, de que adiantaria fazer metralhadoras, se a flecha também serve para matar?
A importância dos indígenas brasileiros
Os índios nos ensinaram todo um sistema de agricultura, incluindo práticas diversas como as coivaras para as queimadas.
Também deles recebemos instruções acerca do cultivo da mandioca, do milho e de outras culturas, bem como uma grande variedade de alimentos que podem ser feitos com estes produtos. Primeiro transmitiram aos colonizadores e estes a nós.
Maria Beltrão, arqueóloga famosa, chefe do Setor de Arqueologia do Museu Nacional e membro da Associação Internacional de Paleontologia Humana, além de muitos outros títulos, descobriu, na planície calcária da Chapada Diamantina, o sítio arqueológico mais antigo da América, ao qual denominou “Toca da Esperança”. Fica em Central, cidade da microrregião de Irecê..
Estudos feitos nos fósseis e nas pinturas rupestres feitas por índios, encontradas neste sítio, perto de Irecê, permitiram-na concluir, após mandar fazer datações na França, que o homem baiano tem cerca de trezentos mil anos.
Isso causou um enorme reboliço nos meios científicos, pois entra em contradição com a teoria científica vigente, para a qual os índios chegaram na América há apenas doze mil anos.
Enfim, a presença de índios na região de Irecê é muito mais antiga do que podemos imaginar.
Celene Fonseca, que faz doutorado na Escola de Altos-Estudos em Ciências Sociais, em Paris, tem ironizado a chamada História do Brasil. Segundo ela, toda a história que é ensinada nas redes de ensino particular e pública, visa ignorar nossos descendentes índios:
“Só para início de conversa, há um paradoxo imenso no ato do tal descobrimento, visto que, chegando aqui, os portugueses encontraram os verdadeiros descobridores, os índios, que já existiam há milhares de anos.”3
Cultura europeia e preconceitos
Todos os preconceitos existentes contra os índios foram transmitidos pela cultura europeia, visando a dirimir um pouco a consciência dos ditos “civilizados”.
Por causa desses ensinamentos, a sociedade, em sua maioria, fica parada. Aceita com naturalidade a grilagem de terras indígenas e a matança deles, quando há resistência.
O objetivo é exterminá-los totalmente, “limpar o mapa”, como dizia Jerônimo Alburquerque, no comando de forças pernambucanas, para vingar a morte dum bispo, supostamente morto por índios.
Mais de quatrocentos anos passaram-se desde o descobrimento, para que o Brasil fizesse alusão ao direito dos índios à posse da terra e à conservação de seus costumes.
Assim, no ano de 1910, o Marechal Cândido Rondom criou o SPI Serviço de Proteção ao Índio, posteriormente substituído pela Funai.
Embora milhares de indígenas brasileiros habitassem as terras da atual Irecê – Bahia e microrregião, não tiveram sequer reconhecido o direito a sete palmos de terras.
Muitos deles tombaram vítimas de tiros e afiados punhais. Alguns dos que restaram vivos fugiram para outras terras. Outros foram capturados e transformados em escravos, para trabalharem nas terras que outrora pertenciam a estrangeiros e descendentes.
Fonte: blog Jackson Rubem Livros do escritor Jackson Rubem, impressos e online.
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Referências:
1.Anais do Arquivo Público da Bahia, vol. XXIV.
2.Pedro Calmom, História da Casa da Torre, 1958, p. 49.
3.Jornal A Tarde, Quarta-feira, 23 de Abril de 1997, “Historiadora ironiza o Dia do Descobrimento”
Brasileiros Pré-Cabralianos: História e Arte Rupesetre-2 ed
Arte rupestre da era pré-cabralina na Chapada Diamantina Bahia
História resumida de Morro do Chapéu – Bahia
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