Uma Revolução Filosófica na Biologia: Colocando a Mente Acima da Matéria

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A biologia moderna pode estar à beira de uma revolução paradigmática — não motivada por novas descobertas empíricas, mas por uma reavaliação filosófica profunda.

Um artigo recente publicado no Evolution News (17/04/2025), intitulado “New Article Calls for a Philosophical Revolution in Biology, Placing Mind Over Matter”, propõe que é hora de repensarmos as bases da biologia: talvez a mente deva ocupar o centro do palco, e não a matéria.

Essa provocação vem de nomes de peso como Seymour Garte, Perry Marshall e Stuart Kauffman, que coassinam um artigo publicado na revista científica Entropy: “The Reasonable Ineffectiveness of Mathematics in the Biological Sciences”. A principal tese? A biologia é muito mais do que uma soma de leis físicas e relações matemáticas. Ela é marcada por criatividade, escolhas e, surpreendentemente, cognição.

O Problema da Ineficiência Matemática na Biologia

Garte, Marshall e Kauffman argumentam que, ao contrário da física, onde a matemática tem sido extremamente bem-sucedida em descrever e prever fenômenos, sua aplicação na biologia tem sido limitada. Isso não se deve à complexidade meramente técnica dos sistemas vivos, mas ao fato de que muitos processos biológicos simplesmente não são computáveis.

Eles citam como exemplo o desenvolvimento embrionário. Cada célula parece “saber” onde deve estar, o que deve se tornar e como deve reagir a sinais do ambiente. Não se trata apenas de seguir instruções fixas no DNA, mas de responder de forma flexível, criativa, quase como se estivesse “pensando”.

Cognição Celular: Uma Nova Fronteira

Essa visão é reforçada por outro artigo fundamental, de William B. Miller Jr., František Baluška e Arthur S. Reber, publicado na Progress in Biophysics and Molecular Biology, intitulado “Biology in the 21st Century: Natural Selection is Cognitive Selection” (2024).

Eles propõem uma mudança ainda mais radical: as células não apenas reagem, elas pensam. A chamada “evolução baseada em cognição” (Cognition-Based Evolution — CBE) entende os organismos vivos como agentes que fazem escolhas adaptativas, processam informações e moldam seu futuro evolutivo com base em decisões, e não em puro acaso.

Ou seja, as mutações não seriam apenas aleatórias, mas poderiam ser influenciadas por decisões celulares. Isso transforma a visão tradicional da seleção natural: ao invés de uma peneira cega, a evolução se torna um processo de inteligência distribuída.

Implicações Profundas: Teleologia e Significado

Essa nova abordagem tem implicações filosóficas profundas. A ciência moderna, desde o Iluminismo, tem se afastado de conceitos como propósito e significado. A biologia mecanicista prefere ver os organismos como máquinas bem ajustadas, produtos do acaso e da necessidade.

Mas e se estivermos errados? E se a vida for mais parecida com uma mente coletiva do que com um mecanismo automático? O artigo de Garte e colegas sugere que talvez seja hora de superar o preconceito antiteleológico e considerar que os sistemas vivos são estruturas intencionais, guiadas por princípios mentais, e não apenas físicos.

Esse tipo de abordagem se aproxima do panpsiquismo, a ideia de que a consciência, ou pelo menos a experiência, é uma propriedade fundamental do universo. Embora controversa, essa ideia tem ganhado força na filosofia da mente e agora começa a influenciar também a biologia.

Um Convite à Coragem Intelectual

É claro que essas ideias não são consensuais. Elas desafiam décadas — senão séculos — de pensamento científico estabelecido. No entanto, ignorá-las apenas por estarem fora do paradigma dominante seria um erro grave.

Como jornalista e pesquisador, vejo com entusiasmo essa tentativa de integrar cognição, propósito e agência à biologia. A ciência precisa de dados, sim — mas também precisa de coragem filosófica para ampliar seus horizontes. Afinal, a mente pode não ser apenas um produto da biologia. Pode ser a sua base.

Palavras-chave:

biologia, filosofia da ciência, cognição celular, seleção natural, evolução baseada em cognição, mente e matéria, panpsiquismo, paradigma científico, Seymour Garte, Perry Marshall, Stuart Kauffman.

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Jackson Rubem

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