Fonte: Livro Irecê – A Saga dos Imigrantes e Histórias de Sucesso, do escritor Jackson Rubem. 534 páginas. Editora Print Fox, ano 2004. ISBN: 85-87498-05-3 (OBS: material protegido pela lei de Direitos Autorais. Caso você reproduza alguma coisa, favor citar a fonte).
Dr. Amauri Lucena – História
Lembranças marcantes da infância
Amauri Saldanha de Lucena, médico, natural da cidade da Barra, filho do saudoso Pedro Nunes de Lucena e de Elizabete Saldanha de Lucena, chegou a Irecê ainda criança, quando seu pai veio instalar a agência do Banco do Brasil.
Iniciou seus estudos no colégio Joel Americano Lopes e Teotônio Marques Dourado Filho. Estudou a 4ª série com a professora Rená, esposa de Dr. Nilton, preparando para a admissão. Foi em Irecê que viveu os doces anos de sua infância e constituiu família com Dona Lúcia Araújo, com quem teve três filhos: Rafael, Amauri Junior e Camila.
Sua primeira residência ficava na Praça Mário Dourado (Praça das Rádios), numa casa que pertencia ao saudoso Nobelino Dourado. Ali morou em companhia de seus pais e de seus irmãos, quatro dos quais se formaram em medicina, um é auditor da receita federal e dois assistentes sociais.
Apesar da simplicidade, não esqueceu de cenas marcantes vividas por ele em sua meninice e cita a enxurrada que descia pelas proximidades da Praça Mário Dourado (Praça das Rádios), o velho chafariz, a imensa Lagoa de Tió e a Lagoa de Senhor Pereira.
A Lagoa de Senhor Pereira acumulava muita água, onde ele e outros meninos tomavam banho.
Também lembra do Estádio de Futebol que naquela época parecia muito distante. Eles iam para o campo de bola, levando uma garrafa de água bastante salgada que não matava a sede de jeito nenhum.
Colocavam a garrafa embaixo de um pé de aveloz.
“O limite do meu passado é o limite do meu mundo”.
“Quando recordo os doces anos de minha infância, venho para Irecê. Aqui eu aprendi a nadar, caçar, matar passarinho, andar de bicicleta e jogar bola”
A importância de seu pai, Pedro Nunes de Lucena, para Irecê
Filho de imigrantes paraibanos que foram morar em Barreiras, na década de 30, Pedro Nunes de Lucena era uma pessoa conhecida e admirada por todos os segmentos sociais, tanto por seu caráter e personalidade, quanto pelo respeito às pessoas. Tinha só o secundário, mas era bastante culto e sabia o latim como ninguém.
Em uma época bastante atrasada, quando as pessoas tinham que montar em lombo de burro e viajar centenas de quilômetros, embaixo do sol quente, em busca de recursos para comprar animais ou plantar lavoura, a instalação do Banco do Brasil em Irecê foi um marco histórico, pois fomentou o desenvolvimento de toda a microrregião.
Pedro Nunes de Lucena teve a felicidade de instalar a agência de Irecê, no ano de 1960, sendo seu primeiro gerente.
“Meu pai era muitíssimo querido em Irecê. Eu me lembro que ele, todo sábado e domingo, ia jogar buraco com Diva Dourado, Clovão, Nobelino e Juarez. Vivia nesse ciclo de amizades e as pessoas tinham por ele um imenso respeito”.
Pedro Lucena era proprietário de um sítio que ficava no fundo de sua casa, construída onde é hoje a Gráfica Salobro.
Na época, muitos funcionários do banco, que chegavam aqui vindos de outras localidades, deparavam com a falta de moradia.
Para resolver este problema, fez um loteamento em seu sítio, doou vários lotes aos colegas e vendeu outros, promovendo assim o surgimento do Bairro dos Bancários, um dos mais nobres de Irecê.
Durante dez anos foi gerente do Banco do Brasil. Era muitíssimo querido em Irecê e quando foi transferido, deixou muita tristeza entre seus amigos, espalhados por toda a microrregião. Até hoje, ele é lembrado com carinho por muitas pessoas.
Problemas de Irecê e prováveis soluções
Dr. Amauri aponta os principais problemas de Irecê e a solução:
“O maior problema de Irecê, hoje, é o problema do Brasil: o desemprego, a desagregação social, a violência falta de planejamento. A cidade tem de ser planejada, tem que ter um plano diretor. Não é possível deixar uma pessoa carente construir uma casa dentro de uma lagoa, pois quando tem uma enchente, o setor público vai ter de socorrer. Tem de ter esta orientação, esta preocupação com a formação da cidade no futuro. Qual é a cidade que nós queremos no futuro? O que esperamos de nossa cidade? A sociedade organizada tem de discutir estes problemas. Daqui para frente tudo deverá ser planejado e o surgimento de um novo loteamento exigirá um estudo topográfico, a drenagem da água, o problema do saneamento. No futuro próximo todos vão ter de conviver com estas coisas modernas, tendo energia, esgoto e sanitário”.
“Temos que discutir com a sociedade como criar empregos. Irecê é o centro da microrregião e consequentemente cresce mais do que outras cidades, tendo, portanto que absorver a mão de obra excedente de outros municípios. Então, Irecê tem de se preparar para albergar os desempregados de outros municípios da microrregião, dando mão de obra para eles.
“A tendência no mundo daqui para frente é formar microrregiões fortes e desenvolvê-las. Em vez da pessoa ir para São Paulo ou Salvador, vai ter condições de estudar, constituir família e viver a vida toda em sua região. Isso é uma coisa que vai ter que acontecer no Brasil, porque os grandes centros estão supersaturados. Esta é a tendência: formação de microrregiões fortes, pujantes, que vão alavancar o desenvolvimento do país e da Bahia”.
“Nós sabemos que quando um cego lidera outro cego, os dois vão cair no precipício. Eu acho que nós temos que discutir o problema social, o político, o econômico e o problema agrícola de Irecê e para isso vejo a necessidade de um fórum contínuo de palestras”.
Como médico, Dr. Amauri tem um acesso muito grande a todos os segmentos e classes sociais. Isso o permite observar mais de perto a decadência que estamos experimentando e o preocupa bastante.
Segundo ele, a microrregião de Irecê já conheceu o apogeu e “observamos com preocupação o processo acelerado de decadência, em consequência da ausência de uma política séria e competente”.
Este problema, que afeta a sociedade como um todo, retrata muito bem a classe política que se encontra desagregada e sem força. O problema não está somente em Irecê e sim em toda a microrregião e poderia ser resolvido.
“Nós precisamos de políticos que se comprometam com estes objetivos: bem-estar social, progresso, emprego, desenvolvimento e cultura. Nós estamos vivendo na era da informática, eletrônica, microeletrônica, engenharia genética, mas em grande parte do Brasil a classe política ainda caminha a passo de tartaruga, como se estivéssemos no século 19. Isso não é mais possível no mundo globalizado, onde a competitividade pela economia e pelo capital internacional é muito grande”.
“Nós precisamos criar uma cultura de progresso e desenvolvimento em todas estas cidades, pois só assim melhoraremos a região como um todo. Precisamos criar uma cultura de eficiência, otimizando os recursos que possuímos”.
“O maior indutor de progresso de uma região, de uma coletividade, é sua parte política. As pessoas têm que ver isso como uma coisa extremamente importante”.
“Nós sabemos que para os problemas do mundo moderno, em que vivemos, têm de haver soluções modernas. Tem de haver renovação, daí a importância de novas lideranças. Elas têm de surgir. É necessário que apareçam”.
O sucesso na medicina e na política
Após concluir o curso de Medicina, na Escola Baiana, em 1983, fez residência no Hospital Getúlio Vargas e no Hospital Santo Antônio (Hospital de Irmã Dulce).
Já com o curso de especialização completo, o que aconteceu em 1986, Dr. Amauri teve várias opções de trabalhar, entre as quais, Barreiras, Ilhéus e Jequié. A saudade de Irecê, no entanto, era imensa e ele acabou retornando a esta terra que tanto ama.
Chegando a Irecê, em 1986, fez um trabalho importantíssimo para a História da Medicina no município. Na época havia mais de cinquenta médicos em Irecê, mas coube a ele fazer a primeira gastrectomia, a primeira tireoidectomia e a primeira colectomia, ou seja, cirurgias de grande porte.
Como é prática corriqueira na região, a grande maioria dos médicos residem em Irecê e prestam serviços nas cidades circunvizinhas. Com Dr. Amauri não foi diferente. Ele foi convidado, em 1994, para ser cirurgião no hospital de Mulungu e fez um trabalho social muito grande.
Mulungu era considerado o quarto município mais pobre do Brasil. O povo vivia no limiar da sobrevivência e a vida era um pesadelo.
“Quando comecei a trabalhar no hospital de Mulungu do Morro, ali tive a oportunidade de conhecer não só a espécie humana, como também a própria civilização. É como se eu tivesse feito uma viagem nas profundezas de uma nação”.
Em sua primeira semana de trabalho, Dr. Amauri pegou uma paciente que estava com fecaloma, ou seja, com as fezes petrificadas.
A mulher estava a quarenta e cinco dias sem defecar, o que é uma coisa rara, não vista nos livros. Nem mesmo no pronto-socorro, quando foi cirurgião, deparou com tantos problemas de saúde.
Tudo isso por conta do descaso, da falta de solidariedade, da banalização do sofrimento, da pobreza e da miséria. “E o que é banalizar?”, pergunta Amauri, e responde:
“Quando banaliza, as pessoas não se emocionam com as coisas terríveis. As pessoas estão morrendo, estão se prostituindo, estão matando e ninguém emociona ou fica indignado com este tipo de coisa. Era o que acontecia em Mulungu, quando cheguei lá, o que me chocou muito”.
Após dois anos trabalhando naquela comunidade, indo uma única vez por semana, saiu candidato contra o prefeito, contra um ex-prefeito e nove vereadores. Disputou contra todas as lideranças.
Toda a sociedade política do município se posicionou contra sua eleição, mas Dr. Amauri Lucena tinha realizado um grande trabalho social no município. Assim, o pessoal oprimido, passando fome, viu nele a esperança:
“Lá o caos estava instalado, mas ninguém tinha coragem de levantar a bandeira. E eu tive que levantar a bandeira de oposição. Foi uma eleição extremamente difícil, mas o povo estava comigo e graças a Deus conseguimos sucesso. Ganhamos e melhoramos significativamente a vida das pessoas, mudando o destino delas e isso me deixa extremamente feliz”.
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oston luiz pereira bastos diz
mais do que medico cirurgião politico honesto;É um homem de visão ampla sempre pensando no próximo e nos que mais precisão,precisamos de mais pessoas como você na nossa região;O desenvolvimento e está em suas mãos volte para politica precisamos de você;Esses são os votos de seu amigo; OSTON LUIZ P.BASTOS o popular luizinho
Jackson Rubem diz
Obrigado, Oston, por sua participação importante.