Dr. Amauri Lucena – Continuação
“Era uma casa, muito engraçada. Não tinha teto, não tinha nada…”
“Podia-se dizer, que até 1996, a música “A Casa” do grandioso Vinicius de Morais, retratava a verdadeira imagem do município de Mulungu do Morro, que chegou a ser classificado pelo IBGE como o quarto mais pobre do país. Naquele ano, em todo município só existiam três tratores para o preparo da terra, poucas ruas eletrificadas, não existia telefone nem acesso asfáltico, à sede do município, poucas ruas pavimentadas e espaço para o lazer era um sonho impossível. As escolas eram inadequadas para um aprendizado satisfatório, sem oferecer condições mínimas aos alunos. O município apresentava um índice alarmante de doenças de Chagas, Neurocisticercose e Meningite. A população vivia no limiar de sua existência, lutando única e exclusivamente pela sobrevivência, sem desenvolver suas potencialidades e sem nenhuma perspectiva de futuro … Apesar dos poucos recursos e dos graves problemas sociais, determinação, competência, o amor ao próximo e o ideal de um Brasil grandioso são os motores de um futuro cada vez melhor”.
Uma analogia bastante original
Dr. Amauri Lucena não tinha experiência como político, mas tinha bastante experiência como médico. Resolveu usar uma estratégia extremamente original, que o possibilitou ter uma radiografia do município que ia governar e o ajudou a fazer uma análise da forma mais rápida e mais perfeita de resolver um amontoado de problemas.
Comparou Mulungu como uma pessoa doente, em estado gravíssimo e como se faz com todo doente nesta situação, agiu rapidamente para salvar a vida do seu doente, representado por Mulungu.
A sociedade é como corpo humano. Tem o cérebro, que são as pessoas formadoras de opinião, dotadas do poder de levar a sociedade para a direita ou esquerda, para frente ou para trás. Tem os pulmões, que são aquelas pessoas que energizam, que trabalham e produzem, e mudam o destino. São os empreendedores. Tem o fígado que depura e é representado pelas pessoas que ensinam, catequizam, mudam a sociedade e, infelizmente, também tem o câncer.
Como paciente em estado grave, Mulungu estava precisando de cuidados urgentes. A primeira medida de Amauri, foi estancar o sangramento, pois o que alimentava o corpo, o sangue, representando as finanças, estava sendo desviado. Depois que parou o sangramento, deu oxigênio ao corpo, ou seja, deu cultura, escola e lazer.
Tudo isso foi feito de forma acelerada, visando salvar o paciente, no caso Mulungu. Depois que o paciente entrou em convalescença, começou a aplicar nele soro e antibióticos, representando nesse caso, o pagamento aos fornecedores e funcionários. E dessa forma o corpo recebeu uma boa dose de energia e vitamina.
Atualmente o corpo está mais ou menos saudável, mas ainda precisa de muitos cuidados, por isso medidas profiláticas continuam sendo tomadas.
“A Medicina, graças a Deus, é uma profissão que me realizou, porque me permitiu entrar em contato com o povo e desenvolver valores que estavam obscuros dentro de mim”.
“O que eu gosto mais é de trabalhar. Gosto do centro cirúrgico, de estar entre quatro paredes, ali no anonimato, fazendo meu trabalho, salvando uma vida, melhorando a vida de uma pessoa”.
A nova realidade
“Ao assumir a prefeitura de Mulungu do Morro, em 1997, Dr Amauri Lucena deparou-se com o caos. A população entregue à própria sorte, onde a vida e a sobrevivência era um verdadeiro pesadelo. Após sete anos de trabalho, o município ganhou um ar de vida e alegria e hoje é uma das cidades que mais se desenvolvem na Bahia. Em 1997 era considerado o 4º mais pobre do BRASIL inclusive sendo notícia no Jornal A Tarde em 13 de novembro de 2002. O crescimento acelerado de Mulungu do Morro nos últimos 7 anos afastou a cidade do seu triste passado e hoje já não se encontra entre as 60 cidades mais pobres do Estado.
Amauri conseguiu equilibrar as contas da cidade e manter o salário dos servidores municipais em dia, inclusive o 13º, religiosamente pago em todos esses anos.
Ele representa um marco na evolução de Mulungu do Morro. Para sintetizar esse trabalho de progresso, desenvolvimento e melhoria de renda, basta dizer que o município que só contava com três tratores em 1996, hoje são mais de 60. Somente as associações contam com 7 tratores com todos os implementos.
De forma impressionante, a Prefeitura Municipal, sob o comando de Dr. Amauri Lucena, fez 95% das suas obras com recursos próprios, trazendo melhorias incalculáveis para todos os cidadãos. Em apenas sete anos, o município evoluiu graças à investimentos em saúde, educação, urbanização, infraestrutura e lazer.
[…]
Foi no governo de Dr. Amauri Lucena que os grandes flagelos de Mulungu do Morro se tornaram coisas do passado:
Cisticercose: Médicos e pesquisadores da Universidade Federal da Bahia estão trabalhando em Mulungu do Morro, há mais de um ano, para acabar com a cisticercose na região.
Ao todo, 160 famílias já foram atendidas pela equipe de neurologistas da UFBA. A cisticercose é provocada pelo ovo da solitária. Pessoas com o verme eliminam todo tempo os ovos junto com as fezes.
Lugares sem esgoto e sanitário são bons locais para os ovos da “solitária” crescerem. Eles sujam a água e os alimentos levados pelo vento e a chuva. As pessoas adquirem a doença quando comem os ovos da “solitária” na carne, nas frutas e verduras sujas, ou quando se alimentam sem lavar as mãos, após defecar.
Comer carne de porco não faz mal, desde que o animal não se alimente de fezes humanas. Mesmo assim, a carne deve ser fervida durante, pelo menos, 30 minutos para matar o cisticerco.
Doença de Chagas: Uma doença causada por um parasita chamado Trypanosoma cruzi, que fica alojado no sangue dos barbeiros ou chupões que se desenvolvem e são liberados nas fezes do bicho quando este pica uma pessoa.
Outras formas de contágio são da gestante para seu feto e transfusão de sangue contaminado. Os sintomas da doença na fase aguda são febre, mal-estar, dor de cabeça, ínguas inchadas, alterações cardíacas leves. Outro sinal que pode significar contágio é um inchaço nos olhos, como se fosse uma reação alérgica.
A prevenção se dá principalmente pela eliminação dos barbeiros dentro das casas, melhoria das construções e uso de inseticidas. Além disso, é necessário cuidados nos bancos de sangue para evitar transfusões de amostras contaminadas.
Meningite: é uma doença das meninges, membranas que envolvem o cérebro e pode ser causada por diversos tipos de microrganismos virais e bacterianos, entre as quais a meningocócica. As virais são benignas.
A meningite é uma doença grave que atinge pessoas de todas as idades. Os sintomas são febre alta, forte dor de cabeça, vômitos, rigidez na nuca (dificuldade de movimentar a cabeça), abatimento geral (estado de desânimo). Em algumas pessoas aparecem manchas na pele.
Em crianças, pequenos abaulamentos de fontanela. A transmissão pode ser feita entre algumas pessoas mesmo sem estarem doentes. Existem outras meningites causadas por outros microrganismos que não são transmitidos diretamente de pessoa para pessoa.
No ano de 1997, havia uma média de cinco casos de meningite por mês. Desde 2000, não foi apresentado mais nenhum caso da doença em Mulungu do Morro.
Como pegar o quarto mais pobre do Brasil, mergulhado em uma situação caótica, com as pessoas desesperançadas em relação ao futuro e com o pessimismo reinando em quase todos os segmentos da sociedade e colocá-lo em um altíssimo patamar de desenvolvimento econômico-social? Dr. Amauri, que conseguiu este feito extraordinário, responde:
“Nós mudamos o município fisicamente, cultural e socialmente. Nós moralizamos a sociedade de Mulungu do Morro e eu tenho certeza que 90% das pessoas daquele município melhoraram de vida e Mulungu só estaria no patamar de saúde que está hoje, daqui a 100 anos. E isso é consequência de quê? Um trabalho sério, comprometido com o curso da história”
MAIS
Biografia Amauri Saldanha de Lucena (Dr. Amauri) – Parte 1
História de Irecê: Emancipação política em 31 de maio 1933
Primeiros habitantes por ordem de chegada: arrendatários
Irecê história: quando o município foi rebaixado a distrito
História resumida de Morro do Chapéu – Bahia
Siga-me nas redes sociais:
Instagram