Quanto mais as pessoas viviam entre as árvores da caatinga de Irecê, respirando o ar puro da natureza, mais saúde tinham. Cura de doenças na Irecê antiga era coisa rara, pois quase não havia doentes.
Os moradores da Irecê antiga, até meados do século passado, eram mais robustos do que os moradores atuais. Dificilmente adoeciam.
Quando algum mal os acometia, a causa principal encontrava-se nas variações súbitas de temperatura. Isso provocava neles, muitas vezes, resfriados e infecções inflamatórias.
Não é sem motivo, portanto, que alguns moradores antigos ficam frustrados, quando alguns médicos, atualmente, passam regimes que eles consideram horríveis.
Deixar de comer carne, gordura e outros tipos de alimentos que comiam no passado com fartura, parece-lhes um peso difícil de suportar, atualmente.
Alimentação
Cozinhavam feijão com toucinho e comiam à vontade juntamente com um pedaço de rapadura.
Tinham a dentadura muito boa. Os dentes raramente cariavam, porque não existia o açúcar refinado. Trituravam a rapadura com os dentes como se faz atualmente com um doce mole.
Naqueles anos viviam plenamente, segundo a concepção deles. Nem sequer precisavam de creme dental para escovar os dentes. Usavam folhas de juá.
Atualmente as pessoas vivem movidas a remédio.
Cura de doenças na Irecê antiga
Nos anos 1930 aos 1950, Irecê não tinha médico, nem remédio de farmácia. Os rezadores eram os médicos, o campo era o médico; o remédio era a raiz de pau.
Procuravam rezadores, quando cobras venenosas os mordiam. Às vezes, nem procurava ajuda do rezador.
Tomavam o sumo do São João e outras plantas da medicina natural, como pião e umburana e se curavam.
Quando os animais se intoxicavam pela ingestão de plantas venenosas, seus donos os curavam dando-lhes uma mistura de água com terra para beber.
No caso de picadas de marimbondos ou ferroadas de escorpião e outros animais peçonhentos, faziam lama e colocavam em cima do local afetado, como se estivessem usando uma pomada. Logo o animal ou a pessoa doente se via livre do mal que o afligia.
Recorriam ao campo também, quando sentiam dor na coluna. Iam de bengala até o campo em busca da carnaúba.
Não queriam nem a casca nem a madeira da carnaúba. Queriam a raiz da planta.
Arrancavam a raiz da carnaúba e colocavam-na em infusão dentro de um copo de água, sem machucá-la e sem fervê-la.
Bebiam daquela água medicinal e logo saravam, podendo voltar a montar em animais, ou correr pelo meio da roça.
Ferviam a raiz do fedegoso e tomavam o chá, para curar males do estômago, prisão de ventre, inflamações e doenças similares, que raramente surgiam.
As doenças que mais existiam, segundo me informou mais de uma pessoa, nascida no início do século, e completamente lúcidas, “era uma dor de barriga, era uma dor de dente, era uma dor de cabeça”.
Não existia tantos nomes de doenças, quanto hoje.
Curando-se da famosa caganeira
A disenteria só dava em criança. Naquele tempo chamavam “caganeira”.
Diziam “estou com caganeira”, “estou com dor de barriga”. Então iam ao mato e arranjavam o “pega-pinto” rapavam e faziam um chá.
Alguns adultos, quando acometidos de “dor de barriga”, curavam-se de uma forma bastante original.
Segundo Chicão, elas subiam numa ladeira, até chegar a parte mais alta. Então desciam de lá na maior carreira, soltando-se bastante nessa corrida.
Quando chegavam embaixo, já se encontravam completamente curadas!
“Você está com dor de barriga, você toma um purgante, nada, você toma um refresco, nada, procure então uma rampa, fica lá em cima, e corra, “desenbanguele”, corra o que suas pernas der. Quando chegar embaixo, você está tão cansado que a dor de barriga sumiu”.
Curando-se de dor de dente
Dor de dente incomoda bastante, mesmo nos dias atuais, quando existem grande quantidade de dentistas.
Imagine nos tempos mais remotos em Irecê, quando não havia sequer energia, quanto mais dentista
Mesmo porque havia pouca necessidade deste tipo de profissional, porque raramente alguém tinha problemas. A maioria absoluta tinha dentes bons, bastante fortes.
Mas de vez em quando alguém cariava os dentes.
Quando estas pessoas sentiam dor de dente, logo obtinham ajuda.
Um parente ou um vizinho arranjava pimentas, machucava uma certa quantia junto com água e dava o doente para bochechar.
O ardor era tanto que a dor de dente passava!
Além do bochecho com pimenta, usavam também unguento de folha de mato medicinal. Colocavam o unguento do lado de fora do rosto, na direção do dente que estava doente.
Logo a dor passava.
Curando-se de coceira
A sarna atacava algumas pessoas, de vez em quando.
Eles não chamavam de sarna. Denominavam o mal como “sangue novo”.
Encontravam a cura para a coceira nos currais de gado.
Entravam no curral e procuravam uma vaca mansa. Pegavam o rabo dela e passavam no corpo.
Geralmente ficavam sãos.
Se não curassem nos currais, procuravam uma planta que alguns chamavam de “caatinga de porco” e outros de quebra-facão. A mesma que é usada dentro da cachaça.
Raspavam a casca da planta ferviam e tomavam banho.
Sentiam como se estivessem ateando fogo no corpo, enquanto tomavam banho com a erva fervida.
Não demorava muito tempo e vinha um frescor bem gostoso, sinalizando que a cura estava próxima.
Bastavam alguns banhos para se curarem da sarna ou “sangue novo”, como chamavam a doença.
A farmácia de plantas
Os rezadores, os raizeiros e o campo eram os médicos e a farmácia no passado em Irecê.
Havia, na medicina antiga, três produtos que não faltava na casa de ninguém: “para tudo”, umburana de cheiro e o carapiá.
Os mais velhos tinham estes três produtos em casa.
Servia para dor de barriga, para congestão e febre. Servia também para dor de dente e outros males da época.
Com estes três tipos de plantas curavam todos os tipos de doenças, mas dificilmente precisavam usá-las, pois raramente adoeciam.
Fonte: blog Jackson Rubem Livros do escritor Jackson Rubem, impressos e online.
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