O Papa Francisco surpreende muita gente, tanto do mundo católico, quanto fora de religião, como é meu caso, com suas afirmações e críticas. Já criticou o comportamento dos líderes da igreja Católica, denunciou “síndrome do acúmulo de bens”, “doença das fofocas” referindo a alguns da alta hierarquia vaticana. Além disso, existe registros na imprensa, citando que o Papa, certa vez, ajoelhou-se diante de um sacerdote.
Há poucos dias, neste meu blog, no artigo intitulado Papa Francisco não queria mas documento vazou: tudo pode se acabar na terra!, onde o Papa Francisco assume o papel de guardião do planeta Terra.
Ultimamente, em sua visita a alguns países da América do Sul, o Papa fez algo, ou melhor, aceitou algo, que lhe foi dado na Bolívia, pelo presidente Evo Morales, que está resultando em muitas críticas. Trata-se de um bendito ou maldito crucifixo em forma de foice e martelo símbolo do comunismo.
E daí? Você pode perguntar.
Eu explico.
Karl Marx foi principal mentor filosófico do Comunismo. Ele pregava uma sociedade humana sem classes, algo que seria conseguido com uma revolução proletária. Até aí tudo bem. Acontece que foi Karl Marx quem disse, ou ao menos propagou, que religião, seja a do Papa ou não, é um vício, é um engano, é uma forma de manipular as massas.
“A religião é o ópio do povo” (em alemão “Die Religion … Sie ist das Opium des Volkes”) é uma frase presente na “Crítica da Filosofia do Direito de Hegel” (em alemão, Zur Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie) de Karl Marx, obra publicada em 1844.
Heinrich Heine, em 1840, no seu ensaio sobre Ludwig Börne escreveu sobre religião e ópio:
“Bendita seja a religião, que derrama no amargo cálice da humanidade sofredora algumas doces e soporíferas gotas de ópio espiritual, algumas gotas de amor, fé e esperança. ”
Moses Hess, num ensaio publicado na Suíça em 1843, também utilizou a mesma ideia: A religião pode fazer suportável […] a infeliz consciência de servidão… de igual forma o ópio é de boa ajuda em angustiantes doenças.
Pois é, a foice e o martelo simbolizam o comunismo e os partidos políticos comunistas. O desenho apresenta uma foice sobreposta a um martelo, de forma que pareçam cruzados ou entrelaçados. As duas ferramentas simbolizam o proletariado industrial (o martelo) e o campesinato (a foice) — as duas classes cuja aliança é considerada fundamental pelos marxista-leninistas para o triunfo da revolução socialista.
Propositalmente ou não, Evo Morales, volto a repetir, fez uma tremenda sacanagem com o Papa, ao presentear-lhe com um crucifixo em forma de foice e martelo, símbolos usados na China, Coreia do Norte e Cuba, países onde existe grande intolerância a religião. Bastante constrangido, o Papa aceitou, embora pudesse ter recusado.
Reinaldo Azevedo
O Reinaldo Azevedo, que se diz católico, escreveu um artigo intitulado “Bergoglio, o dito papa Francisco, não me representa! Ou: O sangue de Cristo e de 150 milhões de vítimas do comunismo“, onde cita que o presidente da Bolívia “presenteou o Sumo Pontífice com uma monstruosidade herética: a foice e o martelo do comunismo, onde estava o Deus crucificado”. E foi mais duro e enfático ao afirmar “Bergoglio fez um muxoxo protocolar, mas sujou as mãos no sangue de 150 milhões de pessoas. Ao fazê-lo, (re)rencruou as chagas de Cristo e se alinhou, lamento ter de dizer isto, com aqueles que O crucificaram.”
Nestes três parágrafos o blogueiro e jornalista da veja, é mais duro ainda:
“Ah, o papa não tem nada com isso! Não tinha como saber o que faria aquele picareta!” Ah, não cola! A Igreja Católica de Roma está banida da China, por exemplo. Ficou na clandestinidade na União Soviética e nos países da Cortina de Ferro. Inexiste na Coreia do Norte e enfrenta sérias dificuldades em Cuba. Um delinquente político e intelectual como Morales não pode ofender moralmente mais de um bilhão de católicos com aquela expressão demoníaca. O papa que recusasse a ofensa. Mas ele não recusou. E foi além.
Em Santa Cruz de la Sierra, nesta quinta, Bergoglio fez um discurso que poderia rivalizar com o de Kim Jong-un, aquele gordinho tarado que tiraniza a Coreia do Norte. Atacou o capitalismo, um “sistema que impôs a lógica dos lucros a qualquer custo, sem pensar na exclusão social ou na destruição da natureza”, segundo ele. E foi além: “Digamos sem medo: queremos uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema já não se aguenta, os camponeses, trabalhadores, as comunidades e os povos tampouco o aguentam. Tampouco o aguenta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia são Francisco”.
É de embrulhar o estômago. Em primeiro lugar, esse papa, com formação teológica de cura de aldeia, não tem competência teórica e vivência prática para cuidar desse assunto. Em segundo lugar, os movimentos que hoje lutam pela preservação do planeta são exclusivos de regimes democráticos, onde vige o capitalismo. Ou este senhor poderia fazer essa pregação na China, por exemplo, onde o capitalismo de estado é gerido pelo partido comunista?