A 2ª edição do livro do escritor, pesquisador, incentivador da cultura e sertanejo apaixonado pela barriguda (árvore típica do semiárido) Jackson Rubem, é prova do interesse e da importância de um texto que tem na tradição e na resistência dos povos indígenas o seu objeto.
Por um bom tempo, tinha-se a impressão de que os povos indígenas iriam ser dizimados em poucas décadas. Contrariando estas hipóteses, ao longo destes 500 anos de colonização, os povos indígenas não somente elaboraram diferentes estratégias de resistência/sobrevivência, como também alcançaram nas últimas décadas um considerável crescimento populacional.
Atualmente tem-se conhecimento da existência de povos indígenas com suas respectivas terras tradicionais, demarcadas ou não, vivendo em 24 Estados da Federação. Há também grande quantidade de indígenas morando em centros urbanos, além daqueles pertencentes a povos ainda sem contato com a sociedade nacional e outros que hoje reassumem suas identidades étnicas até então ocultadas.
No Nordeste, 170.389 pessoas declararam-se indígena o que corresponde a 22,9% da população indígena no Brasil. (IBGE, Censo Demográfico 2000).
Desta feita, o livro Brasileiros Pré-cabralianos – História e Arte Rupestre vem contribuir com esta história de resistência fazendo de Jackson Rubem um aliado da causa indígena na medida em que expõe aspectos da vida, da cultura e das lutas dos indígenas pré-cabralianos e dos pós-cabralianos utilizando verbetes dispostos em ordem alfabética, didática e com tradução para o inglês ampliando o raio de abrangência das informações aqui contidas.
A obra traz revelações da história pretérita como aspectos dos modos de vida dos indígenas e das invasões européias no século XVI, bem como da história contemporânea indígena ao denunciar os efeitos da globalização do capital e sua relação com os territórios indígenas, do suicídio de indígenas e discorre acerca das manifestações da arte, da cultura e da organização destes povos na atualidade.
Outro toque de originalidade e de preciosidade escondida no mundão e na beleza do que tem restado da caatinga baiana são as fotografias das pinturas rupestres no território de Irecê, mais especificamente nas cidades de Cafarnaum, Central, Uibaí, Itaguaçu da Bahia, Barro Alto e Lapão, bem como nas cidades próximas do território como Gentio do Ouro e Morro do Chapéu.
Para obter estas histórias estampadas nas paredes das cavernas e lajedos, Jackson Rubem precisou lançar mão de seus dotes de aventureiro e de esportista radical ao escalar, caminhar, acampar para captar a riqueza de imagens que o leitor tem em suas mãos.
Por este conjunto de informações, curiosidades e imagens, o texto nos instiga a nos aventurarmos pelas grutas e brejões do conhecimento, a fim de compreendermos melhor as cosmovisões e modos de vida destes povos que há mais de quinhentos anos lutam por meio dos seus guerreiros, dos encantados, dos seus torés, dos seus Xamãs, caciques, dos arcos e flexas e bordunas, através da internet e dos vários meios de comunicação, das associações e organizações espalhadas pelo Brasil por terra, vida e liberdade.
Irecê, verão de 2006
Cláudio Eduardo Félix
(Mestre em teoria e história da educação. Professor da Universidade do Estado da Bahia, Campus XVI, Irecê).