Conto uma história triste sobre o bird-man Dean Potter, um cara vitorioso, acostumado a arriscar sua vida pulando de penhascos altíssimos que só de olhar causa uma sensação de medo em muita gente, inclusive em mim.

Dean Potter, no entanto, não temia a morte e assim se arriscava de diversas formas. Alegrava-se, só em pensar que pularia da beira de um precipício de quase três quilômetros de fundura. Sabia intimamente que nenhum mal lhe aconteceria. Afinal, quantas e quantas vezes fez isso?

Não é sem motivo que se transformou em astro internacional dos esportes radicais. Adorava usar wingsuit, um traje planador ou macacão com asas, que o transformava em “bird-man” ou homem pássaro. Algo perigoso, mas que lhe dava prazer. Claro que por ser arriscado exigia certas precauções. Assim, Potter nunca ia até seu limite máximo. Ia só até 80% da capacidade, deixando 20% para o caso de uma emergência.

Fama, dinheiro e uma namorada que ele amava muito e também o amava. Conseguira tudo que queria e agora, aos 43 anos, o bird-man Dean Potter estava pensando seriamente em se casar. Antes disso, estava construindo sua casa e planejando um novo filme. Enfim, tinha tudo que um homem queria. Pelo menos era assim, até o último sábado, dia 16, à tarde.

Ele ia saltar de um penhasco, à beira de um cânion, com mais de 2.300 metros de altura, dentro do Parque Nacional de Yosemite, na Califórnia.

Ele e o amigo Graham Hunt, de 29 anos, estavam vestidos de wingsuit, uma espécie de macacão com asas. Eles iam saltar juntos e não era a primeira vez que faziam isso, mas seria a última.

Os dois saltaram se atiraram para dentro do precipício com mais de dois quilômetros de fundura. Todos esperavam que horas mais tarde estariam de volta para cumprimentar os amigos, falar sobre a aventura e receber parabéns, mais uma vez.

Eles não retornaram. No dia seguinte, uma equipe de helicóptero tentou conversar com eles via rádio, mas não obteve respostas.

Diante da quase certeza de que algo muito ruim aconteceu, a equipe foi procurá-los e encontrou os dois: mortos!

“Dean era um visionário”, diz Cedar Wright, um alpinista profissional de Boulder, Colorado. “Ele estava sempre um passo à frente do que todo mundo estava fazendo.”

“Ele era um personagem maior que a vida”, diz Mike Gauthier, o chefe de gabinete no parque nacional de Yosemite.

Uma curiosidade: por que nem o paraquedas do bird-man Dean Potter, nem o do bird-man Graham Hunt foi acionado quando eles pularam do penhasco?