Continuação da Parte 2
Sua história no cooperativismo e associações
Formado como Técnico em Agropecuária e já funcionário do Interba – Instituto de Terras da Bahia, recebeu convite de Walterney para se filiar à cooperativa, que estava passando por uma crise. Houve uma reunião em São Gabriel, da qual participou a diretoria e membros de diversos municípios da região.
Zé das Virgens esteve nessa reunião, foi convidado a se associar à cooperativa e aceitou. Ficou incumbido de coletar assinaturas dos cooperados, para sanear a cooperativa financeiramente.
Na primeira eleição, foi eleito diretor secretário. Naquela época tinha crédito, subsídio agrícola, comercialização e preço mínimo.
Depois surgiu o movimento das Associações. As primeiras foram a de Palmeiras-Central e Caldeirão-Uibaí. Posteriormente veio a de São Gabriel, fundada por ele. Chamava-se Associação dos Pequenos Produtores Rurais de São Gabriel e ele foi eleito primeiro presidente.
No mesmo período fundou uma Cooperativa de Crédito Rural:
“Foi a maior decepção de minha vida, não pela fundação, mas pela perseguição dos que eram contra o sucesso do que seria o primeiro banco de crédito dos agricultores da região e um dos primeiros da Bahia” – disse o deputado, bastante emocionado, ao lembrar-se deste acontecimento.
Funcionava tão perfeitamente, que houve a liberação dos primeiros talões de cheque, mas para compensação do cheque nacional, precisavam de um computador e não conseguiram. Então teve que pedir baixa no Banco Central.
“Eu sofri muito, porque me dediquei à vida comunitária e à vida pública. Eu agia como deputado, sem ser deputado. Agia como vereador, sem ser vereador”.
O dinamismo sempre norteou a vida de José das Virgens. Além de ser um dos fundadores do PT, foi também um dos fundadores da Associação dos Pequenos Agricultores de São Gabriel, Sindicato dos Trabalhadores de São Gabriel, Grupo Nascerarte em Irecê, Fundação Culturarte, em São Gabriel, o Fórum Regional de Debates, na Região de Irecê, entre vários outros.
“O político ideal é o que nasce da comunidade e combina sua vocação com a vocação da comunidade. Todo homem que se propõe a ser político por livre iniciativa, sem o anseio da população, deve ele mesmo patrocinar sua candidatura e já está fadado ao erro. Não é regra, mas todo político que nasce do povo e é indicado para ser candidato pela comunidade, pelas pessoas, pelos partidos, tende a ser um político forte e coerente. Somente assim as instituições funcionarão plenamente”.
Sua história nas comunicações
A cooperativa alugou um espaço na Rádio Regional de Irecê e colocou no ar o Programa Cooperativista. Zé das Virgens foi o primeiro apresentador.
O sucesso foi imenso, devido à autenticidade do programa, que levava ao ar tudo, desde assuntos do campo, da pecuária até o cooperativismo. Então muita gente começou a se sentir incomodada, principalmente dentro da própria rádio.
Tal era o sucesso do Programa Cooperativista, que todo mundo parava para ouvir. Havia pessoas que levava o rádio para a roça, só para ouvi-lo. Outros saíam da roça para almoçar em casa e ouvir o programa, que era muito ético e não puxava a brasa para o espeto de ninguém.
Na época Zé era muito jovem e estava se destacando bastante na sociedade, causando ciúmes à classe política mais dominante: “Tiraram-me do ar e até hoje me perseguem e me discriminam”.
Sua história nas grandes mobilizações
Em 1989, foi um dos coordenadores do movimento que conseguiu fazer a maior mobilização de agricultores que a Bahia já viu, chegando a fechar o Banco do Brasil e outros bancos. Centenas de tratores saíram as ruas a fim de protestar.
Na época José Sarney era o Presidente da República e acabou com os subsídios agrícolas e com os financiamentos no banco. A mobilização de agricultores tinha por finalidade promover uma luta pela anistia das dívidas rurais, pela volta do subsídio e por justiça.
O movimento foi bem-sucedido. Foi tão intenso, que o governo teve de mobilizar um batalhão de polícia de Itaberaba para conter o movimento: “O povo reconheceu a luta e me elegeu como deputado estadual pelo PT”.
O futuro de Irecê
Na opinião de José das Virgens, Irecê é muito forte na região e é preciso uma mudança em nosso modelo de desenvolvimento regional. Precisamos investir o suficiente em tecnologia, aprimorar nosso comércio, o setor de serviços e avançar nas atividades agropecuárias.
É preciso também verticalizar a nossa produção, não mais para estar vendendo uma saca de feijão de 60 kg. O feijão deve ser vendido ensacado com a marca de Irecê.
É preciso ainda, na opinião dele, que se diminua a área plantada de feijão e se invista mais na pecuária. Fazer de Irecê uma cidade com um desenvolvimento urbano harmonioso, resolver o problema de drenagem, concluir o processo de esgotamento sanitário.
Além disso, a dívida de pavimentação em Irecê é muito grande. Irecê está precisando de um plano diretor, que indicaria em que direção iria crescer.
O deputado também vê com muita tristeza a situação em que se encontram muitos agricultores em nossa região, os quais estão passando necessidade. Tudo isso porque muitos venderam a roça para abandonar o campo, por falta de apoio governamental.
Na opinião de Zé das Virgens, tudo tem que ser diferente para o agricultor, que deve contar com todo apoio do governo. Ele deve ter acesso à tecnologia e assistência técnica, para saber o que plantar e o que criar e ter garantia de preços, a fim de poder sustentar seus filhos.
“Nós temos riqueza mineral e agrícola. O Brasil exporta muito café e açúcar e não consegue deslanchar econômica e socialmente”.
Sua filosofia de vida
“Eu gostaria de viver de maneira natural. Já fui macrobiótico, naturalista e defendo que tenhamos um projeto para a geração atual e para as futuras gerações. Temos que ter uma mudança radical em nossas vidas, a começar da educação individual com liberdade de crenças de religião e uma revolução na nossa alimentação. Todo mundo está vendo os problemas causados pelas gorduras. A alimentação tem matado muitas pessoas, causado muitos problemas cardiovasculares e um aumento dos casos de câncer. É preciso uma mudança radical”.
Em sua opinião, é possível ensinar uma criança que nasceu hoje a ter uma alimentação diferente da nossa. Ingerir frutas, comer verduras e legumes, no lugar de carne. Isso a gente tem que fazer.
Se eu corrigir os meus maus hábitos e fazer com que as pessoas também corrijam os seus, as futuras gerações poderão ter hábitos sadios, inspirados na ecologia e na natureza, e ainda justiça, igualdade, fraternidade e respeito.
Leia mais:
- Biografia Zé das Virgens / José Carlos Dourado das Virgens – Parte 2
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