Continuação da Parte 3
A morte que o abalou
O Dr. Cláudio que inicialmente foi internado em Caruaru, com o agravamento de seu estado de saúde foi transferido para Recife, o que infelizmente não resolveu o seu problema, culminando com o seu falecimento, ocorrido no dia 5 de outubro, daquele ano de 1976.
Foi um golpe muito duro para todos, principalmente para Jorge que não contava com aquele desfecho. Este acontecimento levou-o a assumir a direção do colégio.
Mais tarde, pressionado pelos alunos, comunidade e principalmente os familiares do Dr. Cláudio resolveu comprar o acervo da escola e dar continuidade ao projeto.
Naquela ocasião foram convidados o Dr. Ineny Nunes Dourado (ex-prefeito de Irecê e presidente da Ematerba), Dr. Joacy Nunes Dourado (então prefeito) e Dr. Valdevi Francisco de Matos (o seu sócio na época) para assumir juntos.
“Pouca gente sabe o porquê desse colégio se chamar Cláudio Abílio Aragão. Foi uma justa homenagem que fizemos a um homem forte, decente e muito dedicado. Sentimos grande orgulho por esta decisão”.
Além de ter substituído o nome de Colégio Comercial de Irecê para Colégio Cláudio Abílio Aragão, Jorge também fez de tudo para que a rua, onde o atual Colégio foi construído, passasse a ter o mesmo nome. E assim, com importante apoio da Câmara Municipal da época, foi prestada mais esta justa homenagem.
“Dr. Cláudio era uma pessoa muito sofrida, se alimentava mal e às vezes dormia em cima da mesa de reunião dos professores. Fui parte da vida íntima. Tive o privilégio de assimilar grande parte da sua cultura. A irmã Emília Rosa que era secretária da escola continuou conosco por muito tempo e ainda hoje é uma testemunha viva dos grandes feitos do Dr. Cláudio. Foi ela inclusive que a pedido do Dr. Cláudio ensinou a professora Eurídice o exercício da função de secretária. Com a partida da irmã Emília Rosa veio a irmã Francisca Helena que teve também importante papel no desenvolvimento da escola. Hoje, aliás, também em forma de homenagem a secretaria do colégio tem nome da irmã Emília Rosa e a diretoria o nome da irmã Francisca Helena”.
Antes de falecer, Dr. Cláudio tinha passado uma procuração para Jorge representar o colégio e ainda no leito do hospital baixou uma portaria nomeando-o vice-diretor. Foi com este instrumento que o professor Jorge fez a formatura de 1976, com o convite marcado com tarja preta em sinal de luto pela morte daquele grande homem.
Investido no cargo de diretor, a primeira medida era sem dúvida organizar a parte jurídica e pedagógica da escola, pois até aquela altura só tinha uma portaria autorizando o funcionamento, mas não tinha o seu projeto pedagógico aprovado pelo CEE – Conselho Estadual de Educação.
Ao procurar o CEE, Jorge conheceu a professora Jacy Dourado Rocha, filha do primeiro prefeito eleito de Irecê Antônio Dourado. Daí por diante as coisas começaram a clarear já que a professora Jacy funcionou como uma verdadeira procuradora da escola, naquele conselho, fazendo tudo, é claro, dentro dos mais rigorosos princípios éticos.
Hoje, mesmo sabendo que a homenagem é muito pequena para dimensão da pessoa a sala de professores do colégio se chama Professora Jacy Dourado Rocha.
Nesta caminhada, rumo a legalização e organização do colégio, muitas pessoas deram a sua grande parcela de contribuição, entre as quais professor Antonio Rolim, conselheiro e presidente da merenda escolar da Bahia, que veio a Irecê para fazer a verificação prévia do colégio.
Quando viu as instalações com salas separadas por arame liso e sem banheiros, perguntou a Jorge:
“É isto que você tem para me mostrar? Eu não posso considerar isso aqui uma escola, portanto não posso dar parecer favorável”.
E Jorge lhe respondeu:
“Não! Tenho também um novo projeto aqui em plantas, a carta de aprovação de financiamento pela Caixa Econômica Federal e o terreno aonde o colégio será construído”.
Ao ver os papéis e o terreno, disse: “Aprovarei seu projeto. Vejo que estou falando com um homem sério e comprometido com o trabalho”.
Dr. Rolim não foi esquecido. O pavilhão principal da escola leva o seu nome. Quero lembrar também outras duas grandes figuras dentro dessa caminhada, os professores Raymundo Djalma Costa e José Camercindo que deram grande parcela de contribuição na organização pedagógica e legislação do colégio.
Pioneiro em fazer São João em Irecê
O que há de comum entre o Colégio Cláudio Abílio Aragão e o São João de Irecê? A resposta é: tudo! Foi exatamente na porta do CCAA, na sua antiga sede, à Rua Augusto Pereira Nunes, 181, no ano de 1978, que nasceu o São João de Rua de Irecê. Antes disso, o São João era festejado na área interna da Escola Polivalente de Irecê.
O professor Jorge não entendia como uma festa tão popular não tinha vida mais ativa em Irecê. Procurou o Dr. Joacy, então prefeito e pediu-lhe autorização para fechar a Rua Augusto Pereira Nunes, onde faria um São João de rua. Joacy disse-lhe: “Pode mandar brasa”.
Jorge convidou os professores, alunos e pais e expôs a ideia, que inicialmente tinha por finalidade chamar a atenção da comunidade sobre a importância e a popularidade da festa.
Todos apoiaram de imediato. Foi organizado um grande desfile de carroças alegóricas resgatando os festejos juninos. Um sucesso! As pessoas saíram as portas para ver a novidade. Sanfoneiros, fogos e muita gente do Colégio nas ruas. Uma verdadeira folia.
No mesmo dia do arranca-rabo já a noite foi organizado, em cima de um caminhão, o Concurso para escolher a Miss São João. As candidatas representavam o feijão, o milho, a mamona, o sisal e o algodão.
Tudo isto para mostrar ao povo que esta festa tem história no nordeste e ia mexer com sentimentos do nosso povo. Para jurados e também para ganhar adesão e respeito foram convidadas algumas autoridades, entre elas, o então prefeito Dr. Joacy e o juiz de Direito Dr. Expedito Teixeira.
Entusiasmado com a grande animação que tomou conta da rua, Joacy declarou a realização da festa em praça pública no ano seguinte, sob a presidência do professor Jorge. Nasceu assim, em Irecê, hoje a maior festa popular da região.
“Foi um rapa-pé danado, até hoje eu lembro com muita saudade e emoção. Se tivesse que repetir faria tudo novo, pois a alegria da juventude de Irecê me deixa profundamente sensibilizado e orgulhoso”.
No ano seguinte, conforme estava previsto, a festa de São João aconteceu na Praça da Prefeitura, onde foi construído, mesmo de forma rudimentar, um grande palco para apresentação de quadrilhas, casamento na roça e outras atividades típicas do São João, aí já com a participação de todas as escolas da cidade e entidades filantrópicas.
Algumas atrações vieram de fora, lá do nordeste, como a banda pífaros e o Trio Nordestino. Era a consolidação da festa. Neste local, o São João aconteceu por três edições consecutivas.
Ainda muito entusiasmado e pensando no crescimento do evento, o Dr. Joacy prefeito construiu a Praça Cleriston Andrade (com recursos do Cura), onde seria realizado os próximos festejos de São João.
Naquele ano, contudo, época de eleições o Dr. Joacy foi derrotado por Doinha, o qual teve o privilégio de inaugurar a praça com os festejos seguintes, embora não procurasse dar maior ênfase a festa.
Doinha foi substituído por Luiz Sobral, na prefeitura, que deu uma característica profissional aos festejos de São João, trazendo atrações, palco, som e iluminação de níveis nacional.
“Mesmo que umas pessoas não gostem da festa, não podemos deixar de realizá-la, porque faz parte da tradição do povo. Tenho certeza de que futuras administrações vão resgatar com muito maior brilho o São João de Irecê, porque além de trazer visitantes e divisas para o município, resgata a autoestima de seu povo”.
Semana inglesa em pleno sertão
Hoje oficialmente o comércio e serviços fecham suas atividades aos sábados, a partir das 13hs, para que seus trabalhadores possam descansar e alguns até para organizar o seu negócio, para a segunda-feira (dia da feira local). Este costume é conhecido como semana inglesa. Pouca gente, no entanto, sabe a origem desta iniciativa.
Jorge Rodrigues era secretário de finanças do então prefeito, Joacy, quando Marileido, um jovem muito influente, pediu uma audiência com ele e apresentou a ideia da semana inglesa, já adotada em cidades como Jacobina, Juazeiro, Feira de Santana. Por que não em Irecê? – perguntou.
Jorge compreendeu as ponderações de Marileido e se comprometeu a discutir a questão com o prefeito e a Câmara Municipal. Poucos dias depois, o decreto foi aprovado e sancionado pelo prefeito. Estava criada a semana inglesa, com ela o merecido descanso do trabalhador.
Fazer cumprir a nova lei não foi tarefa fácil para o professor Jorge, pois alguns comerciantes desobedeciam.
Em alguns casos, a polícia foi acionada, mas Jorge interferiu e com a sua capacidade de argumentação conseguiu colocar em prática a nova lei, sem qualquer desarmonia com os empresários e também sem deixar desmoralizar a iniciativa dos poderes executivo e legislativo (é a tal da diplomacia funcionando).
“Hoje eu ando por aí e vejo muitas casas abertas, a partir das 13 h. do sábado. Não sei se estão regulares, pois para isto necessário se torna uma licença especial, inclusive com recolhimento de taxa extra”.
MAIS
Biografia professor Jorge Rodrigues – Parte 3
Biografia professor Jorge Rodrigues – Parte 2
Biografia professor Jorge Rodrigues – Parte 1
Biografia professor Jorge Rodrigues – Parte 5
Biografia Joacy Nunes Dourado – Parte 3
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