Continuação da Parte 2
Montando um escritório de Contabilidade
Aquele 15 de agosto era exatamente uma segunda-feira, dia da grande feira de Irecê. Antes mesmo de conhecer Cambuizinho foi passear de uma parte para outra da cidade, junto com o Dr. Raimundo.
Havia muito papel rasgado na cidade e ao observá-los ele pensou: “É rastro de dinheiro! Essa terra é muito boa! É o progresso. Isso aqui tem muito futuro”.
Mais tarde conheceu Cambuizinho o qual lhe deu muita atenção. Na época, professor Jorge Rodrigues já tinha uma boa clientela no seu escritório em Santa Maria, o que lhe dava a sensação de estabilidade.
Conversou com ele com muita segurança, no que tange as bases do contrato de sua vinda, para assumir os serviços de contabilidade de Cambuizinho.
Dr. Raimundo lhe disse uma frase que lhe fortaleceu ainda mais: “Venha para cá se você tiver confiança em si mesmo e possibilidade de se estabelecer por conta própria. Se você não tiver predisposição de se estabelecer sozinho, não venha”.
Como não era de temer desafios, decidiu topar a parada e vir para Irecê. Entre a sua volta a Santa Maria e o retorno definitivo para Irecê, chegou o novo contador também para trabalhar com Cambuizinho.
Era o jovem Valdevi Francisco de Matos, egresso do Colégio de Contabilidade Olavo Bilac, em São Paulo, que viria a ser seu sócio por dez anos, em um novo escritório. Hoje é um irmão do seu coração.
Nunca é demais lembrar que apesar do sucesso do escritório hoje, o Irecê Contabilidade, o começo foi muito duro e difícil. Os primeiros móveis foram adquiridos na feira. Eram aqueles tamboretinhos e mesinhas de compensado, fabricados em São Gabriel. Mais importantes do que estes só a máquina de escrever, a máquina de somar e alguns formulários trazidos de Santa Maria da Vitória.
Convivendo com o Dr. Cláudio Abílio Aragão
Esta relação é considerada uma das partes mais importantes da sua vida profissional. Jorge já tinha experiência na área de ensino, lecionando no colégio São Vicente de Paula, em Bom Jesus da Lapa, quando ainda era estudante.
O seu bom desempenho deu origem a um convite da direção da escola para assumir no primeiro e segundo anos do curso de contabilidade daquela instituição, as cadeiras de Contabilidade Geral e Técnicas Comerciais, quando ainda cursava o terceiro ano e mais tarde, ensinando as mesmas disciplinas, no Colégio Oliveira Magalhães, em Santa Maria da Vitória.
Assim, ao saber do Colégio Comercial de Irecê, através do amigo Paulo Jackson Dourado, que era funcionário do escritório de Cambuízinho e aluno do colégio, foi com este conhecer o Dr. Cláudio com a intenção de ajudá-lo.
Na conversa com este manifestou o desejo de integrar o seu quadro de professores, se servindo da experiência que tinha e sabendo da importância que a convivência no colégio para ingresso na comunidade. Disse ainda que não precisaria preocupar, inicialmente, com a questão de salário, pois o seu desejo maior era o convívio com a juventude estudantil.
Dr. Cláudio não aceitou a proposta de imediato, pois era muito desconfiado e quis primeiro conhecer esse jovem forasteiro. Pediu que uma pessoa da sua confiança fosse conversar com Jorge, uma espécie de sondagem, para saber de onde vinha, o que queria e se sabia mesmo alguma coisa.
Uma semana depois, mandou chamá-lo e lhe ofereceu três matérias: Contabilidade Comercial, Análise de Balanço e Técnicas Comerciais.
Na época o Dr. Cláudio ensinava sete matérias em quatro horários. Saia rabiscando nos quadros de cada sala sobre o assunto do dia. A chegada de Jorge, portanto, foi um alívio para ele.
Jorge começou a ensinar com muito prazer, fazendo da sala de aula um ambiente agradável e de muito respeito, mesmo tendo alunos mais velhos do que ele. Dentre seus alunos, alguns se destacaram na vida, a exemplo de Elizeu Julindo, Edmar Nunes Dourado, José Sodré Barreto, Meire Livramento, Jackson Rubem, Cleonildo Vasconcelos, Eliete Barreto, Leomar Cardoso, entre tantos outros.
“Eu tenho muita facilidade em fazer amizade e maior prazer em preservá-las. Não gosto de perder amigos. Só me permito a dispensa de amizades, quando estas fogem das relações de afeto e respeito”.
“A amizade, depois da família, é o maior patrimônio do homem. Cada amigo que você tem, amigo de fé mesmo passa a integrar sua família”.
Durante o período de convivência com o Dr. Cláudio, estabeleceu-se entre os dois uma relação de grande amizade e irmandade. Sempre que ele viajava, entregava-lhe a escola, durante o período da sua ausência, às vezes até quinze dias.
Por causa do acúmulo de trabalho em seu escritório, que crescia bastante, Jorge decidiu sair do Colégio.
Menos de oito dias após, dezenas de alunos foram ao seu escritório. João Carlos, de João Dourado, representante da turma disse-lhe: “Viemos lhe buscar, porque aquela escola não pode ficar sem você, rapaz”.
O professor Jorge Rodrigues se comoveu bastante, quando viu o alunado na porta de seu escritório, pedindo para que ele voltasse. Naquele dia mesmo, voltou.
Além do relacionamento com os alunos, estreitou muito a amizade com o Dr. Cláudio, um homem detentor de uma cultura fantástica e com grande desejo de transmitir seus conhecimentos não só para os alunos, mas também com quem convivia. Eram como se fossem irmãos, apesar da diferença de idade: Jorge com 27 anos e Cláudio com 49.
No ano seguinte, exatamente no início de maio de 1976, Jorge surpreendeu o Dr. Cláudio, em estado de profunda tristeza. Com os braços cheios de manchas amarelas e ao vê-lo Cláudio disse: “Professor, eu estou com hepatite”.
Bastante preocupado, o professor Jorge Rodrigues lhe falou: “Cláudio, hepatite é uma coisa grave. Se você está com hepatite, deve se afastar da escola pra se recolher, pois é uma doença contagiosa”.
Dr. Cláudio disse: “É o seguinte: estou indo hoje para Caruaru, para me tratar e você toma conta disso tudo. Só volto quando estiver curado”.
“Coitado, foi à última vez que eu o vi e que falamos pessoalmente” – disse Jorge, com os olhos lacrimejando.
Foto: Inauguração da sede nova do Colégio Cláudio Abilio Aragão, em 14/04/1984, onde também funciona a Faculdade do Sertão.
MAIS
Biografia professor Jorge Rodrigues – Parte 4
Biografia professor Jorge Rodrigues – Parte 2
Biografia professor Jorge Rodrigues – Parte 1
Biografia professor Jorge Rodrigues – Parte 5
Apresentação do livro Irecê: História,Casos e Lendas
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