Fonte: Livro Irecê – A Saga dos Imigrantes e Histórias de Sucesso,  do escritor Jackson Rubem. 534 páginas. Editora Print Fox, ano 2004. ISBN: 85-87498-05-3 (OBS: material protegido pela lei de Direitos Autorais. Caso você reproduza alguma coisa, favor citar a fonte).

Quem é Dr.Nobre / Manoel Nobre Filho

“O dia que a semente da seriedade germinar um pouco mais neste solo tão fértil que é o cérebro do brasileiro, por que não dizer, dos nossos homens públicos, este país deixará de ser subserviente às grandes nações. Grandes porque nos escravizam e nos espoliam com a conivência de nossos próprios dirigentes”.

Mato-grossense, da cidade de Cuiabá, onde nasceu há 65 anos, filho de Constança Maria de Miranda e de Manoel Nobre de Miranda, que era dono de uma usina de fabricar açúcar e cachaça, Dr. Nobre é um dos dezenove filhos, que seu pai teve em dois casamentos e com ele aprendeu coisas curiosas como fabricar pinga naquele sistema tradicional, composto de alambique e condensador.

Alguns dos seus irmãos se destacaram: Clóvis N. de Miranda, que trabalha na OEA (Organização dos Estados Americanos) e é também catedrático em Engenharia, na Universidade Federal de Mato Grosso, passando seis meses no Brasil e outros seis meses no Canadá, Léo N. de Miranda que trabalha na Embrapa e é médico veterinário e Lenil N. de Miranda, pedagoga, com vários outros cursos de nível superior, entre os quais Economia e Advocacia. Lenil foi assessora do Governo do Estado e atualmente se dedica à pesquisa e a atividades beneméritas no APAE.

Dr. Nobre é pai de quatro filhos, sendo um homem, Wagner Nobre de Miranda, economista e professor universitário, fruto do primeiro casamento com a médica Nair Navarro, e de mais três filhas, Valéria (economista), Waleska (estudante de Odontologia) e Vanessa (estudante do segundo grau), que ele teve com sua atual esposa, Celeste Oliveira da Silva, procedente de Miguel Calmon.

“Minha filosofia de vida é trabalho, trabalho, trabalho.

“O lazer é restrito, principalmente por falta de opção e tempo.

“Acredito ser um bom pai, esposo, pois faço o possível para promover uma vida razoavelmente digna aos meus familiares.

“Tenho grande preocupação com a educação das minhas filhas e faço grande esforço para que todas cursem uma boa universidade, garantindo assim o futuro das mesmas”.

Enfrentando dificuldades para ser médico

Não foi fácil Dr.Nobre / Manoel Nobre Filho chegar aonde chegou. Seus pais não tinham recursos e desde cedo ele teve que batalhar muito.

Quando saiu de Mato Grosso, indo diretamente para o Rio de Janeiro, foi com a cara e a coragem, como se diz na gíria.

Conseguiu uma passagem de avião e escreveu para alguns colegas de Cuiabá, que já estavam morando no Rio. Eles o esperavam no aeroporto e logo no primeiro dia que chegou, foi almoçar no calabouço, com a carteirinha de outro colega.

Dali em diante começou a tomar rumo. Na época tinha uma casa de estudantes de Mato Grosso, no Rio, e não foi difícil para ele conseguir arranjar um lugarzinho para se ajeitar. Difícil foi enfrentar a luta, porque tinha que trabalhar e estudar.

Arranjou um emprego. Trabalhava durante o dia e a noite fazia cursinho. Depois de três tentativas, conseguiu passar em três vestibulares: Faculdade Nacional de Medicina, que hoje é Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, passou na Faculdade de Ciências Médicas e também na Universidade Fluminense, em Niterói.

Tinha muitas opções, mas preferiu a Faculdade Nacional de Medicina, por ser pública, embora a Fluminense também fosse. Somente a outra era privada.

Não tentei vestibular em nenhuma outra área. Sempre sonhei ser médico. Meus colegas de Cuiabá me recriminavam, achando que eu não tinha condições de estudar Medicina e queriam que eu fizesse outra coisa, mas recusei. Queria Medicina e faria o vestibular nem que para isso eu passasse cinco ou dez anos tentando.

Cursar direito era o que meu pai idealizava para mim. Contrariei-o e preferi seguir o meu desejo, meu sonho – ser médico. Graças a Deus e minha persistência o meu objetivo foi alcançado”.

Devido a seu imenso esforço e dedicação pelos estudos, Dr.Nobre / Manoel Nobre Filho contou com a ajuda de muita gente, quando passou no vestibular. Teve que fazer malabarismos para conseguir uma licença através do sindicato, entrosado pelo lado esquerdo dos médicos. Eles lhe arranjaram uma licença de dois anos e neste período ganharia 70% do salário mínimo.

“Eu nunca pensei em desistir de estudar. Queria concluir o meu curso e graças a Deus eu consegui levar esse sonho meu para frente”.

Morava na casa de estudantes e dava para ir “quebrando um galho”, mas pouco tempo depois teve que fazer muitos outros bicos:

“Trabalhei no Jornal do Brasil, entregando jornal às 4hs. da manhã. Enfrentei o Maracanã, dia de quarta, sábado e domingo, vendendo picolé Qbom, e foi ali que aprendi a torcer pelo Vasco. Foi uma luta árdua, mas a gente quando quer, consegue”.

Dr. Nobre e seu filho único do primeiro casamento, o economista Wagner, funcionário de Furnas e professor da Universidade Federal Fluminense. (Foto do ano 1984)

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