As difíceis viagens de José Domingos no tempo de estudante
As distâncias se encurtaram bastante atualmente, devido ao asfalto, mas na época em que José Domingos estudava na capital, as estradas pareciam intermináveis.
Em consequência disso, se as aulas dele terminassem em uma segunda-feira, só viajava para Uibaí na sexta-feira, porque se chegasse na terça-feira em Irecê ou Central, não encontrava transporte.
Devido a isso, saía de Salvador na sexta-feira, às 5 horas da manhã e trocava de ônibus em Feira de Santana.
A empresa substituía o ônibus, porque até Feira a estrada era boa. Até Irecê e Uibaí, no entanto, era péssima. E depois de uma longa viagem cansativa, chegava à Central às 22 horas.
Dormia em Central e esperava até o meio-dia de Sábado, quando acabava a feira. Então viajava para Uibaí, de carona em uma rural.
A rural pertencia ao amigo Manoel Joalheiro, casado com sua prima carnal, que participava da feira de Central, vendendo joias.
“O progresso é uma lei natural. É também uma lei de Deus. Ninguém detém o progresso. Ele vem ou pelo amor ou pela dor.”
E o progresso veio, porque as estradas de cascalho, chamadas de Federais, foram substituídas pelas de asfalto. Por conseguinte, o asfalto permitiu maior velocidade aos meios de transporte, encurtando as distâncias.
José Domingos lembra que o transporte terrestre melhorou bastante, mas o aéreo piorou, pois quando estudava em Xique-Xique, um avião da Varig descia toda semana naquela localidade. Hoje isso já não acontece.
Mas o nordestino, na sua opinião, já é acostumado com as dificuldades. Isso acontece desde a época em que os europeus chegaram aqui, passando pelo Nordeste, região do Brasil mais próxima da Europa.
Atualmente pode-se dizer que as coisas melhoraram em relação às mais antigas, mas, segundo o psiquiatra, apesar da eletricidade, do asfalto, do rádio e do telefone, precisamos, aqui em Irecê, de uma linha de aviação.
Neste ponto não progredimos, regredimos e muito.
Passou em dois vestibulares para Medicina
Logo que concluiu o científico, submeteu-se aos vestibulares da Universidade Federal da Bahia e da Escola Baiana de Medicina.
Portanto, em janeiro de 1970, ano em que todos os brasileiros vibravam felizes, porque o Brasil venceu o tricampeonato mundial de futebol, José Domingos também vibrou, tanto pela vitória do Brasil, quanto pela sua vitória pessoal.
Uma vitória em dose dupla: passou no vestibular da Universidade Federal da Bahia e no vestibular da Escola Baiana de Medicina!
Tinha duas opções diante de si, mas preferiu estudar Medicina na Universidade Federal da Bahia, porque era mais econômico. Afinal, além dele tinha outros irmãos que também precisavam estudar.
Esta preocupação era apenas sua, pois seu pai, Domingos Leandro:
“Não se preocupe, cuide de suas obrigações. Eu juntei para gastar com vocês, e com prazer gastarei em tudo que precisarem.”
Domingos Leandro era cidadão honesto e trabalhador, que dedicava sua vida ao trabalho, porque queria dar um bom estudo e consequentemente um bom futuro para os filhos.
O pioneiro na psiquiatria em Irecê
Ainda no quinto ano de Medicina, começou o treinamento que acabaria ajudando-o a escolher o tipo de especialidade médica que queria seguir. Inicialmente as coisas ficaram um pouco complicadas, pois achava que psiquiatria era muito “estressante”.
Dr. José Domingos trabalhava no posto médico Dr. Francisco Cardoso. Junto com ele, o Dr. José Humberto, de Xique-Xique, que era chefe do plantão e Dr. Genário, ex-prefeito de Central.
O posto ficava no IAPI e era ligado a maternidade Ticila Balbino, em Salvador.
Sempre que chegava uma mulher em trabalho de parto, necessitando de cesariana, eles a encaminhavam para a Ticila Balbino. Certa vez, no entanto, durante o treinamento, José Domingos acompanhou uma cesariana e achou muito feio.
Disse para si mesmo: “Não dá, eu tenho que fazer só clínica”.
Depois desta experiência, José Domingos foi para a área de ortopedia, onde estagiou com os ortopedistas do Pronto Socorro Getúlio Vargas, em Salvador.
Ali também sentiu um certo mal-estar, principalmente quando havia a necessidade de intervenção cirúrgica no paciente.
Bastante preocupado com isso, procurou os seus professores. Falou com eles da grande dificuldade que sentia em lidar com a área cirúrgica e o seu desejo de se dedicar somente à clínica médica.
Então o seu professor, Dr. Gessé Accioly, que foi clínico geral em Salvador, durante muitos anos, disse-lhe:
“Olha, meu filho, 80% da clínica médica é psiquiatria e se você não conhecer a psiquiatria, você não vai ser um bom clínico.”
Posteriormente, Dr. Gessé Accioly mudou-se para a Espanha, ficando três anos lá, fazendo curso de Treinamento Autógeno, um ramo da psicanálise.
Outro médico, o renomado gastroenterologista Dr. Gilberto Rebouças, que passou dez anos se especializando nos Estados Unidos, disse-lhe:
“75% da clínica médica é psiquiatria. Se você não conhecer a psiquiatria, não vai ser um bom clínico.”
Um ano depois destes conselhos, em agosto/1976, José Domingos recebeu um valioso troféu: o diploma de médico, podendo exercer a profissão em qualquer grande cidade da Bahia, ou permanecer na capital. Seu maior desejo, no entanto, era retornar para Uibaí, sua terra natal, ficando próximo de sua família.
Doutor José Domingos foi o primeiro médico de Uibaí que voltou para sua terra natal, onde exerceu a Psiquiatria, sendo o pioneiro da região.
Dr. Genário, que é primo carnal da sua mãe, formou seis meses antes, mas foi trabalhar na região de Barreiras.
Resolvendo problemas sociais com a psiquiatria
Dr. José Domingos surpreendeu-se com a quantidade de pessoas que viviam jogadas pelas ruas, em meio ao lixo, bastante sujas.
Sentindo uma imensa compaixão, começou a medicar aqueles doentes mentais.
Eles saíam de seu consultório com uma receita médica e com um atestado comprovando que estavam impossibilitadas de trabalhar no sol ou pegar peso, por causa dos medicamentos que tomavam.
Como no sertão a principal fonte de trabalho são as roças, onde existe necessidade da força braçal, geralmente embaixo de sol escaldante, aqueles doentes poderiam requerer a aposentadoria.
E muitas se aposentaram e passaram a viver dignamente.
“A causa do sofrimento vem é a falta de amor. Se você trata a pessoa com amor e a considera, ela também vai lhe tratar bem e lhe considerar.”
Além disso, Dr. José Domingos costuma dizer:
“Todo mal-estar é provocado por tristeza, raiva ou medo.”
Depois de alguns meses medicando doentes em Uibaí, recebeu um convite precioso do seu sogro, Miguel Lázaro Machado, pai de Vera Lúcia, que ainda era sua noiva.
Miguel, que já morava em Irecê há seis anos, o convidou para vir trabalhar nesta cidade, dizendo-lhe: “Eu quero lhe ajudar e posso lhe ajudar.”
Aceitou satisfeito o convite do sogro, pois sabia que trabalhando aqui, a região de Irecê poderia ser mais bem servida na área psiquiátrica.
E assim, como médico psiquiatra, serviu bastante a população.
Durante os muitos anos de exercício da profissão de médico psiquiatra, Dr. José Domingos jamais aceitou que uma pessoa qualquer desrespeitasse um doente mental em sua presença.
Agia assim, porque demonstra imenso amor pelo próximo. Segundo ele, a causa do sofrimento dos doentes mentais é desconsideração do esposo ou esposa.
Além disso, existe também a desconsideração dos familiares, vizinhos, patrões, ou dos colegas de trabalho que normalmente acompanham o paciente ao consultório psiquiátrico.
Atividades sociais
Dr. José Domingos é sócio do Lions Clube de Irecê, uma entidade filantrópica, há mais de vinte anos.
Alem disso, já foi sócio e presidente da Socribi – Sociedade Cristã Beneficente de Irecê, que ajudou a região, doando casas populares e reabrindo o Hospital Regional de Irecê, que esteve fechado muitos anos.
Como presidente da Socribi, estadualizou o Hospital Regional de Irecê, melhorando a qualidade de vida dos funcionários e do povo da região. A estadualização só foi possível, porque a Bahia tinha um governador justo e democrático: Dr. Valdir Pires, que hoje está no PT.
Leia mais:
Biografia Dr. José Domingos – Parte 1
Dr. José Domingos – Civilização do Amor – Parte 3
Biografia Dr.Paulo Heber – terceira parte
Biografia Dra.Minaura / Minaura Machado Moreira – Parte 2
Biografia Dra.Minaura / Minaura Machado Moreira – Parte 1