Fonte: Livro Irecê – A Saga dos Imigrantes e Histórias de Sucesso, do escritor Jackson Rubem. 534 páginas. Editora Print Fox, ano 2004. ISBN: 85-87498-05-3 (OBS: material protegido pela lei de Direitos Autorais. Caso você reproduza alguma coisa, favor citar a fonte).
Vidas iguais, destinos diferente
“Agora eu só quero dar um pouco do muito que Deus me deu para aqueles que estão em torno de mim, seja administrando cidades, seja compartilhando o pão, seja me solidarizando na hora do sofrimento, levando a palavra de conforto para aqueles que mais necessitam. Enfim, da forma que Deus achar que devo servir.” – Beto Lelis / Adalberto Lelis Filho.
Beto lelis / Adalberto Lelis Filho
Beto Lelis estava com nove anos de idade, quando ficou órfão, com outros seis irmãos, todos menores de idade.
Sensibilizado com a situação dramática dos sobrinhos, Isaías Silva, levou-os para o Distrito Federal. Naquele lugar, morariam em um barraco de madeira, coberto de papelão, construído em uma invasão chamada Vila Tenório.
Na mesma invasão vivia inúmeras crianças, inúmeros adolescentes, todos nas mesmas condições socioeconômicas, mas cada um com um sonho de vida melhor.
O sonho de Vavá, companheiro de Beto Lelis, era ser fuzileiro naval; José Carlos queria ser vendedor de livros; Argemiro era fascinado nos filmes de Bruce Lee e sonhava ser um lutador de artes marciais; o de Mascarado, era ser jogador profissional de futebol e o de Beto Lelis, ser Arquiteto.
Assim, cada menino tinha um sonho. Havia, portanto, no coração de cada um deles, o desejo de uma vida melhor. Mas algo marcante diferenciava aqueles meninos sonhadores que moravam na mesma invasão.
Dona Bela levava Beto Lelis e os demais irmãos para a igreja, todos os domingos, mas as mães dos outros meninos não levavam e a repreendiam, dizendo:
“Bela, você está sendo muito rígida com seus filhos. Estas crianças passaram a semana inteira trabalhando para sobreviver, lavando carros… e no domingo você os obriga a ir para a igreja”.
Definitivamente, os coleguinhas de Beto, já bem mais velhos, tiveram um final de história bastante dramático. Eis o que queriam para suas vidas:
O sonho de Vavá, filho de Zé Sapateiro, e engraxador de sapatos, era ingressar na Marinha e ser fuzileiro naval. E ele ingressou na Marinha. E quando, no primeiro final de semana, entrou na favela, todo vestido de branco, causou imensa felicidade aos colegas, porque o sonho do amigo engraxador de sapatos estava sendo realizado.
Vidas marcadas pela tragédia
No segundo final de semana subsequente a entrada de Vavá na Marinha brasileira, ele não voltou e todos estranharam e já na segunda- feira, o Correio Brasiliense, do Distrito Federal, estampava a manchete: FUZILEIRO NAVAL MATA e no subtítulo: A futura sogra, a futura noiva, a futura cunhada e mais uma ou duas pessoas e em seguida tira sua própria vida, com a arma da corporação.
José Carlos, o que sonhava ser vendedor de livros, acabou se transformando em um puxador de carros e certa vez estava internado no hospital com hemorragias, devido a espancamento pela polícia. Mascarado, o que sonhava ser jogador profissional de futebol, acabou sendo abatido a tiros, não se sabe se pela polícia ou pelos companheiros de crime, quando tentavam assaltar um ônibus. Argemiro, que era fascinado em Bruce Lee e sonhava ser lutador de artes marciais, estava em lugar desconhecido.
Por volta de 1983/1984, quando era diretor técnico de uma multinacional chamada Alcan, Beto Lelis recebeu uma ligação de outro colega de infância, que estava em Brasília, comunicando-lhe que Argemiro assaltara o Banco do Brasil, em Juazeiro, e na fuga, perseguido pela polícia, sequestrou o bispo Dom José. Estava entrincheirado entre as pontes de Petrolina e Juazeiro e cercado pela polícia federal de Pernambuco.
Um dos irmãos de Beto Lelis, que era agente federal, intercedeu falando que o bandido era um colega de infância deles e pediu que fossem criativos e cuidadosos na operação, para salvar a vida do rapaz.
O sequestro terminou bem e tempos depois Beto se encontra com o Bispo Dom José, que lhe diz: “Beto você não sabe o que aconteceu recentemente. O Argemiro já não me deve mais nada.”
Beto Lelis se assustou, acreditando que o Argemiro foi morto. Então o bispo contou-lhe que já não estava em Juazeiro e que fora, não só como padrinho, mas também como oficializador do casamento de Argemiro, dentro do presídio da Pampulha, no Distrito Federal.
O outro menino da turma de Argemiro, o que sonhava ser Arquiteto, não conseguiu realizar seu sonho, pois não podia pagar universidade particular, mas estudou dois cursos: Técnico em Edificação e Desenho Industrial que o ajudou a galgar posição de destaque.
Mais do que isso, o ex-menino de rua, Beto Lelis / Adalberto Lelis Filho foi eleito deputado federal, prefeito de Ibipeba e prefeito de Irecê, por duas vezes seguidas, mas jamais esqueceu suas origens. Hoje não existe mais a Vila Tenório, mas existe a Ceilandia, que vem da sigla CEI – Campanha de Erradicação de Invasores.
Repreendido por Deus com vara de açoite
Beto diz que é extremamente apegado com Deus e menciona-o corriqueiramente, pois para ele Deus representa tudo em sua vida. Considera-o como seu Salvador, que lhe garantirá a vida eterna em um Paraíso celestial. Além disso, Deus é o seu criador, pois crê que é filho dele, uma vez que é descendente de Adão e Eva. “Acredito na teoria da criação e não na teoria da evolução”.
“Deus representa tudo para mim. Além de ser o meu Criador, o meu Salvador é o ar que respiro e a minha paz de espírito. Alem disso, Ele é o amor que reina na minha vida, no meio dos meus familiares e no meio em que convivo. Ele é ainda o meu andar, o meu ouvir, o meu caminhar. Talvez seja mais fácil dizer que ele representa absolutamente tudo em minha vida”.
Beto acha Deus tão bom e a Bíblia é tão perfeita que sua relação para conosco é de pai para filho. Por exemplo: “O pai que ama o filho deixará de repreendê-lo se estiver no caminho errado?” – pergunta Beto.
“Está escrito na Bíblia que Deus repreende os seus filhos e os exorta com vara de açoite, porém não deixa que ninguém lhes toque a mão. Eu dizia que você ama seus filhos e lhes dá alimentação, morada, veste, educação, lazer, esporte, carinho e amor, mas quando seu filho atravessa a rua sem olhar para o lado, você o adverte e o exorta. Se o pequeno pirralho insistir, você percebe que a advertência não serviu, então lhe dá um pequeno puxão de orelha para ver se ele compreende. Você faz isso porque é ruim? Não! Você faz isso porque ama seu filho”.
O bom pai segundo Beto Lelis
O bom pai – diz Beto – fará como o Pai Celestial. Primeiro exorta e depois, se necessário for, castiga, mas o castigo é suportável: “Deus já me repreendeu e foi com varas de açoite. Até hoje os verdumes estão gravados nas minhas costas, porque em um determinado momento eu lhe desobedeci. Assim, Deus já me repreendeu sim, mas como bom pai que quer seus filhos no caminho certo e ao contrário de rebelar-me, peço-lhe perdão pelos erros que cometi e tento mais uma vez trilhar-me nos caminhos da sabedoria”.
“Eu não acredito em Deus simplesmente por acreditar. Eu acredito por que sou racional. Portanto, tenho um livro chamado Escrituras Sagradas que fala acerca de nossas origens e do nosso destino. Além disso, mostra quem criou a nós e ao Universo e quem comanda tudo. Leio este livro e vejo que nele não há nenhuma contradição. Então, por que eu iria duvidar das coisas que ali estão registradas?”
MAIS
Biografia Beto Lelis / Adalberto Lelis Filho – Parte 2
Biografia Beto Lelis / Adalberto Lelis Filho – Parte 3
Biografia Beto Lelis / Adalberto Lelis Filho – Parte 4
Biografia Beto Lelis / Adalberto Lelis Filho – Parte 5
Biografia Beto Lelis / Adalberto Lelis Filho – Parte 6
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Edmar carneiro diz
parabéns pelo trabalho belíssimo,também sou historiador
Jackson Rubem diz
Obrigado, Edmar Carneiro, pela participação. Bom saber que você também se encontra nesta profissão que é ingrata por falta de apoio, mas magnânime por perpetuarmos memórias, a exemplo de Beto Lelis, e outras personalidades.
Edmar carneiro diz
o irmão de beto agente federal chama-se :Jose Lelis Sobrinho,grande amigo e irmão em Cristo , um pacificador e conciliador Membro da Congregação Batista Boas Novas da qual sou o pastor.
NETO DE FLORIANO diz
MEU COLEGA SÓ QUE NÃO VIREI POLITICO , VIREI TAXISTA EM SÃO PAULO
Jackson Rubem diz
Obrigado, amigo, por participar e pela observação.
estefane diz
gostei muito da sua biografia olha so que legal minha professora de yngles ela e irma de beto lelis o nome dela e cleide selma lelis ,ela trabalha na escola municipal professor joel americano lopes toda vez que ela chega na sala ela fala good morning class e agente reponde good morninig teacher se alquem conhece ella curti ai mano ou mana.
Anderson Bronzato diz
Estou buscando escritor/biografo para escrever o livro e um personagem chamado Luiz Pereira, ex-favelado que conseguiu no governo de Carlos Lacerda, transferir centenas de famílias do Morro Sao João para um conjunto habitacional no Lins de Vasconcelos no Rio de Janeiro.
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Favor entrar em contato.
Grato